Muito se discute sobre o futuro do uso de antibióticos promotores de crescimento na produção animal. Esta é uma prática adotada há muito tempo com o intuito de melhorar a qualidade intestinal dos animais e, consequentemente, o desempenho zootécnico, mas que está com os seus dias contados.
Esta prática já foi banida em alguns países, como os pertencentes à União Europeia, e também está desaparecendo gradualmente nos Estados Unidos, fortalecendo e ampliando a discussão entre os produtores brasileiros e técnicos da área.
Vale ressaltar que a não utilização dos promotores de crescimento deve estar alinhada ao aumento dos controles em sanidade e biossegurança, combinado com o uso de produtos alternativos com o objetivo de promover a saúde intestinal, reduzir o risco sanitário e aumentar o desempenho das aves.
Diversas opções estão disponíveis comercialmente, tendo cada produto o seu diferencial técnico, de inclusões e particularidades de uso. Ao nutricionista cabe analisar tecnicamente e decidir sobre a melhor solução, considerando o uso combinado, ou não, de cada produto.
Aditivos Fitogênicos
Aditivos fitogênicos são produtos originados das plantas, também conhecidos por fitobióticos ou nutracêuticos. Compreendem uma ampla variedade de ervas, especiarias e produtos derivados, tais como os óleos essenciais, óleos-resinas e extratos (Windisch et al., 2008).
Adicionados à dieta dos animais são capazes de:
- Aumentar a produtividade;
- Melhorar a qualidade da ração e as condições de higiene;
- Além de melhorar a qualidade dos alimentos derivados desses animais (Koiyama, 2012).
Segundo Hashemi e Davoodi (2011), os fitogênicos de uso na nutrição animal podem ser classificados como ervas, considerando toda a planta ou suas partes, ou em fitogênicos botânicos, como os extratos e óleos essenciais. As ervas e seus derivados não possuem uma substância ativa única e os produtos indicados são, na verdade, uma mistura de várias espécies de plantas ou de seus extratos.
Considera-se que os efeitos de cada produto fitogênico possam ser potencializados quando utilizados em combinação. Portanto, estes produtos não possuem um mecanismo de ação único, como os antibióticos.
Alguns estudos abordam o uso de compostos fitogênicos de forma isolada na dieta, o que aumenta a compreensão dos efeitos do aditivo no animal, facilitando o estabelecimento de suas ações. No entanto, observa-se que, em sua maioria, os estudos disponíveis consideram a associação dos efeitos finais do aditivo, que é composto por diferentes substâncias bioativas.
Desta forma, os produtos fitogênicos, extratos e óleos essenciais, oferecem mais do que apenas propriedades aromatizantes. Quando adicionados à ração das aves, estes compostos fornecem substâncias ativas, que podem ter efeito antioxidante, antimicrobiano, anti-inflamatório, antisséptica, imunomodulador, entre outros.
Além disso, os aditivos fitogênicos entram na preferência dos consumidores e se alinham ao conceito Research, Society and Development (limpo, verde e ético), que vem sendo aplicado à pecuária em geral. O “limpo” consiste em reduzir o uso de compostos sintéticos, o “verde” na diminuição dos impactos gerados ao meio ambiente e o “ético” está aliado aos efeitos gerados no bem-estar animal (Stevanovic et al., 2018).
Atualmente, são muitas as opções disponíveis comercialmente, sendo que boa parte delas apresenta combinações de diferentes óleos ou extratos, potencializando assim os efeitos sobre a qualidade intestinal e, consequentemente, a conversão alimentar.
Extratos e óleos essenciais
Os extratos e os óleos essenciais de plantas são utilizados há muito tempo na medicina humana e, mais recentemente, passaram a ser explorados na produção animal. O uso destes produtos remete a uma criação mais saudável, substituindo os antibióticos com função melhoradora de desempenho, ou auxiliando na manutenção da saúde intestinal em associação com outros aditivos na ração.
A principal diferença entre os extratos de plantas e os óleos essenciais é o método de extração utilizado. Ambos possuem metabólitos, ou princípios ativos, que estão diretamente relacionados com as suas propriedades biológicas, mas podem diferir significativamente em relação a concentração e padronização dos bioativos presentes.
De forma geral, a formação dos metabólitos secundários na planta é influenciada pela espécie da planta e por características do ambiente, como o tipo de solo, estação do ano e ciclo vegetativo da planta.
Quando utilizados na alimentação animal, os princípios ativos dos extratos de plantas e óleos essenciais são:
- Absorvidos no intestino;
- Rapidamente metabolizados pelos enterócitos (KOHLERT et al., 2000);
- Biotransformados no fígado e posteriormente excretados pela urina e respiração (CO2).
Devido à rápida metabolização e curta meia vida dos compostos ativos, o risco de acúmulo nos tecidos é mínimo (RIZZO et al., 2008).
Os óleos essenciais do orégano, canela, tomilho, pimenta, entre outros, têm sido frequentemente utilizados na nutrição de aves devido a suas propriedades antioxidante, antimicrobiana, antifúngica, anti-inflamatória e de estimulante da digestão, contribuindo diretamente na melhoria de desempenho.
O extrato de orégano é um óleo essencial, extraído e destilado a vapor de plantas híbridas de Origanum vulgare, sendo que 85% de sua composição constitui-se de dois componentes fenóis naturais fundamentais na ação antimicrobiana: o carvacrol e o timol.
Ambos agem sobre a membrana celular bacteriana impedindo sua divisão mitótica, causando desidratação nas células e, com isso, impedindo a sobrevivências de bactérias patogênicas (Al-Kassie, 2009), apresentando grande efeito como agente antimicrobiano. O carvacrol e o timol são divididos quanto à isomeria, como fenóis isômeros, possuindo a mesma fórmula molecular, mas com propriedades diferentes.
Taninos
Os taninos são um grupo grande e heterogêneo de compostos fenólicos, amplamente distribuídos em uma gama de espécies de plantas, podendo ser encontrados em folhas, sementes, raízes e tecidos do caule (Gai et al., 2010). São metabólitos secundários que atuam como parte do sistema de defesa química da planta contra a invasão de patógenos e o ataque de insetos (Huang et al., 2018).
Os taninos podem formar complexos com proteínas, assim como podem complexar com polissacarídeos, ácidos nucleicos, alcaloides, minerais etc. (Frutos et al., 2004), podendo ser classificados em hidrolisáveis ou condensados, dependendo da sua resistência à hidrolisação.
Estudos recentes demonstram diversos efeitos benéficos da utilização de taninos na alimentação de aves como redução da mortalidade e da severidade de lesões causadas por patógenos no intestino (Wang et al., 2008; Tosi et al., 2013), além da melhoria de desempenho das aves (Masek et al. 2014; Mannelli et al., 2019).
Vale ressaltar que as propriedades antimicrobianas variam conforme o tipo de tanino, assim como outras propriedades de interesse para uso na nutrição de aves. Entre as fontes mais utilizadas estão os taninos de Castanheira, Quebracho e de Acácia Negra.
Considerações finais
Óleos essenciais e taninos são substâncias fitogênicas com grande potencial para a substituição dos antibióticos melhoradores de desempenho, ou para uso associado a outros aditivos, com diversos efeitos benéficos associados, reforçando assim a proteção intestinal das aves.
Livya Stefane B. de Queiroz é nutricionista de aves de corte na Agroceres Multimix
O artigo é destaque na edição de setembro da Revista do OvoSite, a partir da página 34.