A partir dos informes enviados ao órgão entre 2005 e 2019 – e que abrangem 18.620 surtos enfrentados por 76 países, blocos e/ou territórios – a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) efetuou uma decomposição sazonal e de tendência da Influenza Aviária, apresentada no gráfico abaixo.
O resultado obtido mostra que os menores níveis de disseminação são registrados no mês de setembro (início do Outono no Hemisfério Norte), aumentam a partir de outubro e atingem o pico em fevereiro (meados do Inverno).
Aceita essa sazonalidade, pode-se, doravante, esperar sensível decréscimo no número de casos da doença, certo? Não necessariamente, infelizmente. Porque as curvas obtidas refletem os casos registrados até 2019. E de 2020 para cá – especialmente em 2022 – a doença adquiriu características totalmente diferentes, até mesmo inéditas.
Exemplificando, nunca anteriormente a mortalidade causada às aves selvagens atingiu o nível observado no ano passado e neste ano. Até pouco tempo atrás sabia-se que muitas delas (patos, por exemplo) eram quase naturais portadores do vírus, mas em geral de forma assintomática. Isso mudou em 2022, pois, somando-se aos milhões de aves que morreram nas criações avícolas comerciais (pela doença ou submetidas a sacrifício sanitário, na tentativa de evitar maior disseminação do vírus), há também milhões de aves selvagens mortas naturalmente pelo H5N1.
Outro fato – também pouco registrado em eventos anteriores – tem sido o crescente número de casos em outros animais – como os mamíferos (pelo menos 17 espécies já foram afetadas), indicando que esse tipo de Influenza deixou de ser apenas “Aviária”: tornou-se “Animal”, no seu mais lato sentido.
A princípio, por sinal, acreditava-se que a contaminação de outras espécies animais se devia à ingestão de aves infectadas. Mas esse conceito caiu por terra depois que a doença dizimou, na Espanha, uma criação comercial de martas destinadas ao fabrico de peles e, no Peru, já matou mais de 3.000 leões marinhos.
O vírus mudou? Claro, pois é princípio básico de todo ser vivo modificar-se/adaptar-se para poder sobreviver. Mas, muito mais que o vírus, quem mudou foi a Natureza, diariamente agredida pela insensibilidade do Homem. O recrudescimento de males antigos aparentemente controlados, assim como os fenômenos meteorológicos extremos são apenas algumas das consequências dessa agressão.
A experiência acumulada pela ciência no desenvolvimento (surpreendentemente rápido) das vacinas contra a Covid-19 vai permitir que, logo, se disponha também de uma nova vacina contra a Influenza Aviária. Capaz não só de controlar a doença na avicultura comercial, mas também de equacionar as limitações (especialmente as de ordem comercial) que tornam reticente ou impeditivo seu uso mais amplo.
Mas… e as aves selvagens? É impossível vaciná-las. Por isso, tudo indica, a Influenza Aviária veio para ficar. Enfrentá-la (a despeito de uma vacinação futura) será o desafio contínuo com o qual a Avicultura produtora de carne e de ovos terá que conviver.