O intestino é o órgão de predileção em pesquisas avícolas atuais, uma vez que estudos vêm apresentando importantes descobertas sobre a relação da saúde intestinal com o organismo da ave, por meio de diferentes mecanismos, influenciando diretamente no desempenho. Um exemplo é a comunicação que ocorre por meio do eixo intestino-cérebro. O intestino é a principal fonte de serotonina, neurotransmissor inerente ao bem-estar animal e, consequentemente, associado ao desempenho.
O microbioma intestinal tem papel fundamental para o adequado funcionamento do intestino, sendo a sua relação com o hospedeiro, uma interação complexa de simbiose, intimamente relacionada à proteção e promoção de saúde. Com o intuito de modular a microbiota intestinal, os promotores de crescimento vêm sendo utilizados há vários anos pelas empresas avícolas, porém, devido ao risco da seleção de microrganismos resistentes a essas moléculas existe uma crescente busca por alternativas aos promotores de crescimento, como os probióticos. Desta forma, foi realizada uma pesquisa em parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da UNESP, Campus de Botucatu-SP, para a avaliação da relação do probiótico GVF – MIX RF com o bem-estar e desempenho de frangos de corte.
A pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética no Uso de Animais da FMVZ sob número de protocolo 133/2022. 1862 pintos de um dia, machos, foram alojados em instalação experimental divididos em boxes (13 aves/m²), sendo o delineamento experimental inteiramente casualizado, em que foram divididos em três grupos experimentais T01: grupo que recebeu GVF-MIX RF misturado à ração na quantidade de 50 a 150 g por tonelada de ração (de acordo com a fase de criação) durante todo o período de criação; T02: grupo que recebeu um promotor de crescimento misturado à ração durante todo o período de criação e T03: grupo que não recebeu a mesma ração que os demais grupos, porém isentos de probióticos e promotores de crescimento.
Foram avaliados os índices zootécnicos (ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar, viabilidade e fator de eficiência produtiva) e os parâmetros relacionados ao bem-estar: teste de simulação da apanha, teste de aproximação (reatividade das aves através do registro do número de aves que poderiam ser tocadas pelo pesquisador dentro do alcance do seu braço), latency to lie (tempo gasto pela ave para sentar-se quando exposta a situação desconfortável, como em local com água) e níveis sanguíneos de serotonina (analisados através de kits específicos). Os dados foram comparados por meio da análise de variância (ANOVA), fator único, utilizando-se o programa SAS.
Tabela 1. Desempenho de frangos de corte até 43 dias
Tratamento | Peso Inicial (g) | Período de 1 a 43 dias | |||||||
Peso Final (g) | GP (g/ave) | GP (g/ave/dia) | Consumo (g/ave) | Consumo (g/ave/dia) | CA | Viabilidade (%) | FEP | ||
T01 – GVF-MIX RF | 41 | 3037a | 2996a | 70a | 4759a | 111a | 1,59a | 96,24 | 485 a |
T02 -Promotor de Crescimento | 41 | 2812b | 2772b | 64b | 4580ab | 107ab | 1,65ab | 98,87 | 443 a |
T03 – Controle negativo | 41 | 2575c | 2535c | 59c | 4390b | 102b | 1,73b | 96,99 | 380 c |
Valor de P | 0,411 | 0,001 | 0,100 | 0,010 | 0,010 | 0,021 | 0,001 | 0,478 | 0,001 |
GP=ganho de peso; CA=conversão alimentar; FEP=fator de eficiência produtiva; Médias comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05). N amostral de 100% das aves por tratamento. Legenda: letras minúsculas diferentes na coluna apresentam diferença estatística significativa.
Gráfico 1. Conversão alimentar e ganho de peso de frangos de corte aos 43 dias de criação.
Tabela 3. Índices de bem-estar para as aves estudadas
Tratamento | Teste de Apanha (%) | Teste de aproximação (%) | LTL* (min) | Serotonina
(5-HT, µg/mL) |
||||
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | ||||
T01 – GVF-MIX RF | 53,57a | 39,29a | 3,57a | 3,57ab | 0,00 | 48,12a | 5’13”a | 346a |
T02 – Promotor de crescimento | 42,86b | 42,86a | 10,71a | 3,57ab | 0,00 | 30,07b | 2’27”b | 128b |
T03 – Controle negativo | 39,29b | 35,71b | 14,29a | 7,14a | 3,57 | 35,34b | 3’51”ab | 127b |
Valor de P | 0,001 | 0,001 | 0,001 | 0,023 | 0,068 | 0,001 | 0,001 | 0,001 |
*LTL= latency to lie. Dados comparados pelo teste de Qui-quadrado (P<0,05). Para LTL o teste aplicado foi Tukey (p<0,05). Escores de comportamento no teste de apanha: 1 – animal não se movimenta; 2 – animal caminha, mas não vocaliza nem corre; 3 – animal caminha e vocaliza; 4 – animal corre e vocaliza; 5 – animal pula para tentar evitar a apanha. N amostral do Latency to lie: 5% das aves por tratamento; N amostral do Teste de simulação da apanha: 10% das aves de cada tratamento. N amostral da Concentração de serotonina: sete aves por tratamento. Legenda: letras minúsculas diferentes na coluna apresentam diferença estatística significativa.
Gráfico 2. Indicadores de bem-estar para frangos de corte aos 42 dias de criação.
Portanto, o GVF – MIX RF é mais eficiente em proporcionar desempenho para o frango de corte do que o promotor de crescimento testado, sendo o bem-estar um dos possíveis fatores para o melhor desempenho.
Camila de Souza Oro, Médica Veterinária da Cinergis