Como a Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) continua a infectar mais do que somente aves, cientistas e profissionais da indústria querem evitar que ela infecte mais espécies e continue a impactar a saúde animal e humana, o meio ambiente e a economia.
O “International Avian Influenza and One Health Emerging Issues Summit”, com quatro dias de duração, organizado pelo Centro de Excelência em Ciência Avícola da Universidade do Arkansas (EUA), teve um total de 1.270 participantes registrados de 51 diferentes países, presencialmente e virtualmente, para compartilhar e aprender mais sobre a IAAP e outras doenças que afetam animais e humanos.
Guillermo Tellez-Isaias, presidente do evento e professor pesquisador aposentado do Centro de Excelência em Ciência Avícola e da Estação Experimental Agrícola do Arkansas, diz que há ameaças muito maiores à saúde animal e humana em relação à gripe aviária.
“O vírus altamente patogênico da gripe aviária vem sendo capaz de se adaptar naturalmente a espécies nunca antes infectadas. Se ele se adaptar completamente aos humanos, a COVID-19 parecerá um pequeno resfriado comparado ao que esse vírus pode causar”, disse Tellez-Isaias, comparando sua ameaça à gripe espanhola em 1918. “Então, é por isso que queríamos ter este encontro, para conscientizar as pessoas em todo o mundo.”
Tellez-Isaias disse que os participantes do seminário produzirão um documento com diretrizes e recomendações para autoridades de saúde nacionais e internacionais, com base em discussões em grupo e apresentações de especialistas, para ajudar a orientar esforços futuros no combate à gripe aviária altamente patogênica e outras ameaças emergentes à saúde.
O Centro de Excelência em Ciência Avícola faz parte da Divisão de Agricultura da Universidade do Arkansas e da Faculdade de Ciências Agrícolas, Alimentares e da Vida da Universidade Dale Bumpers, também de Arkansas. Após um evento inaugural bem-sucedido em 2023, disse Tellez-Isaias, no segundo ano os organizadores expandiram seus objetivos, incluindo outras questões emergentes que afetam bovinos, suínos, abelhas, humanos e muito mais, como parte do conceito Saúde Única, que enfatiza que a saúde animal, humana e ambiental estão todas interligadas.
“Nos dois primeiros dias do evento focamos na gripe aviária altamente patogênica, mas não apenas em aves. Nós a estendemos para animais selvagens e comerciais, incluindo bovinos de leite”, disse Tellez-Isaias. “E discutimos a gripe aviária e outras doenças, incluindo doenças exóticas como a peste suína africana, que já está em nosso quintal na República Dominicana. É algo em que estamos de olho.”
Urgência da colaboração
Tellez-Isaias ressaltou ser urgente focar nessas doenças globalmente, já que a gripe aviária se espalhou para diferentes espécies em todos os continentes, incluindo a Antártida.
“Essas doenças não conhecem fronteiras”, disse ele.
Membros da indústria, agências governamentais e regulatórias, e cientistas de todo o mundo apresentaram seus trabalhos no encontro. Tellez-Isaias disse que suas descobertas podem melhorar a saúde animal em geral e contribuir potencialmente para minimizar os impactos da gripe aviária e de outros vírus.
Integrante da Divisão de Agricultura, Sami Dridi, professor de ciência avícola, falou sobre a sustentabilidade da produção avícola, especificamente sobre os desafios do estresse por calor e potenciais estratégias baseadas em mecanismos. A pesquisa de Dridi visando ao bem-estar e à manutenção da produtividade das aves, envolve a obtenção de linhagens de galinhas capacitadas a conservar água mesmo sob estresse por calor. Ele já constatou que a eficiência hídrica está melhorando a cada nova geração e tem o potencial de se expandir para outras operações avícolas, como perus e patos.
Tomi Obe, professora assistente do Center of Excellence for Poultry Science e do departamento de ciência avícola, apresentou uma pesquisa sobre estratégias pré e pós-abate para controle de salmonela na produção avícola. Ela discutiu diferentes métodos a serem considerados em fábricas de ração, granjas e abatedouros. Obe também faz parte do Arkansas Center for Food Safety dentro do departamento de ciência alimentar.
Jada Thompson, professora assistente do departamento de economia agrícola e agronegócio, falou sobre os impactos econômicos da gripe aviária altamente patogênica, destacando como a doença afeta produtores e consumidores.
Bill Potter, professor associado e especialista em extensão em aves da Divisão de Agricultura, discutiu as estratégias da One Health para otimizar a integridade intestinal das aves e a segurança alimentar pré-abate. Ele discutiu as regulamentações propostas em torno da salmonela e compartilhou pesquisas mostrando a eficácia da implementação de vacinas em aves.
Adnan Alrubaye, professor assistente de ciência avícola, falou sobre práticas de manejo para mitigar a claudicação causada por bactérias específicas em frangos de corte.
Os participantes da cúpula incluíam pesquisadores internacionais e locais, veterinários e profissionais do setor privado.
Amanda Bray, ex-aluna de ciências avícolas e coproprietária da Northwest Arkansas Veterinary Services em Springdale, disse que manter-se informada sobre as tendências do setor, nacional e internacionalmente, a ajuda a definir quais serviços oferecer.
“Nosso foco principal são os abatedouros avícolas e laticínios”, disse Bray. “E [a gripe aviária] é um problema muito grande. Então, quanto mais conhecimento eu tenho, melhor eu sei como dar suporte a outros na indústria e quais testes precisamos desenvolver e oferecer.”
Frente unida pela saúde global
Liliana Monroy é fundadora e CEO da Natural Animal Health, uma empresa que fornece produtos para a saúde intestinal aos produtores. Monroy disse que conquistou um longo relacionamento de confiança com pesquisadores da Divisão de Agricultura, e que “a colaboração é vital” para combater a IAAP.
“Se você quer ter sucesso, precisa ir até as pessoas que sabem mais”, disse Monroy. “E precisa trabalhar muito próximo de professores e pesquisadores. Não podemos trabalhar isoladamente. Como procedemos de diferentes origens, precisamos unir esforços com médicos, entidades ambientais, líderes do setor privado e assim por diante, para impedir o que está acontecendo.”
Monroy, que também fez uma apresentação durante a conferência, diz que os protocolos de biossegurança, embora cruciais para prevenir a propagação da gripe aviária, também criaram muitos obstáculos para empresas e produtores.