O Congresso de Ovos da Associação Paulista de Avicultura (APA), realizado em Ribeirão Preto (SP) chegou ao seu final hoje, quinta-feira com destaques sobre sanidade, manejo, nutrição e a política aplicada sobre o setor de postura.
Em três dias de evento, os mais de novecentos participantes acompanharam palestras e debates para o desenvolvimento do setor, com pesquisa, ciência e análises direcionadas por especialistas.
O ex-ministro da Agricultura, Antonio Cabrera abordou em sua participação o impacto da carga tributária para o setor, os gastos do governo, a burocracia e a necessidade de uma revisão nas taxas e regulamentações para o agronegócio. “Precisamos conhecer o que é mais importante e eficiente para o nosso setor. Vivemos em uma batalha de comunicação e temos que ter em mente que precisamos valorizar cada produto, especificamente aqui, os ovos. Por trás de cada quilo de proteína produzido há muita tecnologia e a sociedade precisa conhecê-la”, apontou.
O Presidente da Associação Paulista de Avicultura, Érico Pozzer destacou a qualidade do trabalho dos produtores avícolas. “Somos muito bons em produzir. O que eu vejo de necessário é uma necessidade de união, de comunicação com o consumidor final”, disse.
Pozzer também abordou a qualidade sanitária do setor avícola. “Estamos preparados. Sabemos dos riscos e estamos implementando todas as ações necessárias para garantir a efetividade da biosseguridade nas granjas. O nosso status sanitário é o nosso maior ativo”, afirmou.
Affonso dos Santos Marcos, Diretor Técnico do Departamento de Defesa e Inspeção Animal do Estado de São Paulo destacou que sem a defesa animal não exportação. “Realizamos uma fiscalização rigorosa para que todos os produtores estejam em conformidade com as normas de biossegurança. Realizamos um controlo de doenças e possíveis focos de risco e estamos conseguindo proteger o plantel avícola de São Paulo”, disse. “Nossa vigilância é ativa, principalmente no período de migração das aves da América do Norte. Trabalhamos sob os pilares de vigilância e educação sanitária pois sabemos que a sanidade é o caminho do sucesso”, destacou.
As estratégias de vigilância e controle para detecção precoce de focos foram apresentadas por Izabelle Cordeiro, Coordenadora de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. “Nosso foco é garantir a segurança alimentar da população, com a avaliação particular de cada situação que envolve qualquer risco de contágio”, disse.
Importância, tendências e desafios do mercado de grãos
Os pontos críticos, a geopolítica, a economia e o clima foram o destaque da apresentação de Maurício Nacif de Faria, Diretor da Agroceres Multimix. Ele apontou a nova dinâmica de mercado, com novos custos, novas taxas, o ‘efeito Trump’ e os preços do petróleo e sua relação com o dos biocombustíveis. “Estamos vivendo um período de insegurança na economia brasileira, inclusive com uma taxa de juros muito elevada. Isto está inibindo os investimentos e o setor de grãos precisa muito de investimentos, principalmente para melhoria da estocagem. Precisamos de uma política mais viável para este tema”, pontuou. “É preciso destacar que estamos produzindo a maior safra de soja da história, com projeções de 170 milhões de toneladas”, lembrou Nacif.
Maurício Nacif de Faria, Diretor da Agroceres Multimix.
Perfil e preferência nacional de consumidores de ovos
De acordo com Jeane Vieira Leite, pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (UNESP), o consumo de ovos tem sido amplamente estudado ao longo dos anos, sendo um alimento reconhecido por seu elevado valor nutricional e acessibilidade. “Desde o início do século XX, o ovo passou de um alimento básico a um componente essencial em diferentes dietas, ganhando destaque não apenas pela qualidade proteica, mas também por seu papel na culinária e na indústria alimentícia. No entanto, ao mesmo tempo em que o consumo aumenta, a compreensão sobre o perfil e as preferências dos consumidores ainda apresenta lacunas”, afirmou.
Entre os desafios identificados, destacam-se as diferentes percepções relacionadas à qualidade do produto, como cor da casca, frescor, práticas de produção e preço. Estudos anteriores sugerem que essas preferências podem variar significativamente em função de fatores sociodemográficos, como idade, gênero, renda e nível de escolaridade.
“Considerando a importância de atender às expectativas do consumidor e de fomentar o consumo de ovos como alimento saudável e sustentável, esta pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de identificar o perfil e as preferências dos consumidores. Assim, buscamos compreender as principais características dos consumidores sociais, bem como, os fatores que influenciam as decisões de compra e consumo”, destacou. “Os consumidores, principalmente jovens mulheres valorizam os ovos pelos seus benefícios nutricionais, versatilidade e praticidade. O preço, qualidade e frescor também influenciam as decisões de compra, com preferência pela aparência e ausência de defeitos. Embora a renda não seja um fator decisivo, as mulheres mostram padrões de consumo mais consistentes”, finalizou Jeane Leite.
Trabalhos premiados
Os trabalhos premiados durante do Congresso de Ovos foram Qualidade de ovos de galinhas poedeiras criadas em piso em função de diferentes densidades de alojamento – UFV, Relação entre resistência da casca, frequência ressonante e propriedades físicas do ovo – Unesp/Jaboticabal, Exigências nutricionais de cálcio e fósforo para frangas em crescimento e galinhas de postura: desenvolvimento de modelo fatorial – Unesp/Jaboticabal e Avaliação in vitro do potencial de formação e adesão de biofilmes de estirpes de Salmonella isoladas de granjas avícolas – Unesp/Jaboticabal.
Qualidade de ovos de galinhas poedeiras criadas em piso em função de diferentes densidades de alojamento
O trabalho foi desenvolvido por Alexander de Almeida e Debora Duarte Moraleco, da Universidade Federal da Grande Dourados, Heloisa Pagnussatt, Jean Kaique Valentim e Arele Arlindo Calderano, da Universidade Federal de Viçosa – Departamento de Zootecnia, e Fernanda Nunes Albernaz Silva, Marcos Vinícius Martins Morais e Heder José D’Avila Lima, da Universidade Federal de Mato Grosso – Faculdade de Ciências Agrárias.
A equipe apontou que os sistemas alternativos de produção estão expansão mundo, impulsionados pelo aumento do interesse em garantir o bem-estar animal e maior produtividade. Essas abordagens buscam criar ambientes que aprimorem a qualidade de vida das aves, permitindo a expressão de seus comportamentos naturais e oferecendo um espaço mais amplo para exploração. Apesar do crescimento desses sistemas alternativos, questões como a densidade de aves, ainda demandam discussões, pois é crucial determinar a quantidade adequada de aves para garantir o bem-estar, o desempenho otimizado e, consequentemente, a rentabilidade, especialmente em climas quentes, onde a temperatura apresenta desafios adicionais para as aves. O objetivo do estudo tem como propósito avaliar a criação de galinhas poedeiras em sistemas de piso em diferentes densidades, avaliando sua influência a qualidade dos ovos.
A avaliação da qualidade dos ovos foi realizada nos últimos três dias de cada período de 21 dias, onde todos os ovos íntegros foram coletados e três foram escolhidos aleatoriamente para análise. A gravidade específica foi determinada por imersão em soluções salinas calibradas com densidades entre 1,060 e 1,095 g/cm³. Após quebra dos ovos, foram medidos o peso da gema, casca e albúmen; a porcentagem de cada componente foi calculada em relação ao peso total. A altura do albúmen e o diâmetro da gema foram mensurados, e a unidade Haugh foi calculada para avaliação da qualidade, seguindo a fórmula de Eisen et al. (1962). “Recomenda-se que em sistemas de criação de aves em Cage-Free devem ser utilizadas as densidades de 6 aves/box (0,406 m2/ aves) a 8 aves/box (0,305 m2/ aves), sem que a densidade afete a qualidade dos ovos”.
Relação entre resistência da casca, frequência ressonante e propriedades físicas do ovo
A pesquisa foi realizada por Deisy Carolina Celis Alba, Larissa Oliveira dos Santos, e Gabriel Silvero da Silva, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias-FCAV, Universidade Estadual Paulista-UNESP, Jaboticabal, João Paulo Martins Chiquini, Agroceres Multimix e Michele Bernardino de Lima, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Produção e Saúde Animal, Universidade Estadual Paulista- UNESP, Araçatuba.
A equipe detalhou que o aumento da escala de produção de ovos ocorreu concomitantemente com os avanços na mecanização e automação dos sistemas de produção, especialmente no processamento de ovos, o que também aumentou o número de ovos danificados devido à maior exposição da casca de ovo a choques mecânicos, saindo de 1,5% de ovos quebrados em sistemas manuais para quase 7% do total de ovos quebrados em sistemas mecanizados. Os relatórios indicam que as perdas de ovos danificados e quebrados podem representar de 8 a 11% da produção total de ovos. Portanto, o controle de qualidade da casca de ovo deve ser monitorado constantemente na granja e pode ser avaliado por métodos diretos e indiretos.
O método direto avalia a resistência da casca do ovo ao impacto por meio de compressão, enquanto os métodos indiretos incluem a gravidade específica, peso e espessura da casca, além de variáveis relacionadas são forma do ovo. O custo da análise da resistência da casca de ovo e sua viabilidade persistem com o desafio de equilibrar a demanda por monitoramento pelas granjas para controle de qualidade e o acesso a equipamentos para medição como uma análise de rotina. Esta análise tem sido realizada com equipamentos de bancada, que exigem infraestrutura laboratorial e, por esse motivo, parte dos produtores é assistida por meio de laboratórios móveis que oferecem serviços especializados.
Portanto, é necessária uma ferramenta que possa ajudar os técnicos a tomar decisões em tempo real, bem como diagnosticar as causas que estão atuando para aumentar as taxas fora da faixa normal. Esta pesquisa foi definida com o objetivo de prever a resistência da casca de ovo por meio de medidas destrutivas e não destrutivas usadas na avaliação da qualidade externa dos ovos de galinhas poedeiras comerciais. “Recomenda-se o modelo (M3) para prever a resistência da casca de ovo. Este modelo considera medições destrutivas e não destrutivas como variáveis de entrada e, portanto, estudos futuros devem ser realizados com o objetivo de obter um método não destrutivo para prever a resistência da casca de ovo.”.
Avaliação in vitro do potencial de formação e adesão de biofilmes de estirpes de Salmonella isoladas de granjas avícolas
O trabalho foi conduzido por Isis Mari Miyashiro Kolososki , Heitor Leocádio Souza Rodrigues, Valdinete Pereira Benevides, Mauro de Mesquita Souza Saraiva, Angelo Berchieri Junior, da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Segundo a equipe, os biofilmes são aglomerados de microrganismos que se encontram unidos por uma matriz extracelular composta predominantemente por polissacarídeos. Esta matriz proporciona aos microrganismos uma camada protetora que os torna mais resistentes a condições ambientais adversas e os capacita a aderir de maneira estável a diversas superfícies, facilitando sua persistência em ambientes variados. Na avicultura de postura, biofilmes podem se formar nas superfícies das instalações, representando como um mecanismo para manter a viabilidade de patógenos no sistema avícola.
Esses patógenos podem comprometer tanto a saúde das aves quanto a qualidade dos produtos gerados, como ovos e carne, impactando na segurança alimentar e a saúde pública. Dentre os microrganismos com capacidade de formar biofilmes em instalações avícolas e com relevância em Saúde Única, destacam-se Campylobacter spp., Pseudomonas spp., Bacillus spp., Escherichia coli e Salmonella spp.
A infecção provocada por bactérias do gênero Salmonella é a segunda doença de mais prevalente no mundo. Algumas estirpes de Salmonella com potencial zoonótico aderem-se a superfícies de alimentos e equipamentos através de biofilme. Dessa forma, o estudo da capacidade formação de biofilmes pode fornecer informações sobre o perfil epidemiológico dessas bactérias. O presente estudo teve como objetivo avaliar o potencial de formação de biofilmes por cinco estirpes de Salmonella spp. de sorovares distintos e que não estão contemplados nas regulamentações de monitoramento pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Os sorovares em questão são Salmonella Schwarzengrund (SCH), Salmonella Branderup (BRA), Salmonella Saintpaul (SAI), Salmonella Mbandaka (MBA) e Salmonella Seftenberg (SEF), isolados de fezes de aves de postura. O intuito é verificar o potencial desses patógenos de formarem biofilmes, o que pode representar uma ameaça à integridade dos sistemas de produção e à segurança alimentar. “Este estudo expõe variações no potencial de formação de biofilmes entre as estirpes de Salmonella, com destaque para a estirpe SCH, que apresentou maior adesão e potencial de persistência. Os resultados indicam a necessidade implantar medidas de controle eficientes e específicas focadas na eliminação biofilmes.”
Exigências nutricionais de cálcio e fósforo para frangas em crescimento e galinhas de postura: desenvolvimento do modelo fatorial
A pesquisa foi feita por Nathana Rudio Furlani, Rony Riveros Lizana, Audasley Tadeu Santos Fialho, Nilva Kazue Sakomura, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”, Campus Jaboticabal.
O grupo apontou que o cálcio (Ca) e o fósforo (P) são minerais essenciais na produção de aves, desempenhando papéis cruciais tanto no desenvolvimento ósseo durante a fase de crescimento quanto no suporte à formação da casca do ovo na fase de produção (Diana et al., 2023). Ambos os nutrientes são importantes para um ótimo desempenho produtivo das aves de postura.
Ao utilizar o modelo fatorial, é possível determinar as exigências nutricionais de Ca e P com base nas necessidades para mantença e produção. Durante a fase de produção, caracterizada por altas taxas de postura, há um aumento significativo na demanda por esses minerais, exigindo um ajuste dinâmico na homeostase mineral para garantir atender as exigências nutricionais. Assim, é fundamental adotar um modelo que permita atender às exigências nutricionais de forma precisa, considerando as variações na produção e o estado fisiológico das aves. O modelo fatorial se destaca por expressar as exigências nutricionais para mantença em função do peso vivo (PV), e crescimento e produção em função ao ganho de peso (GP) e à massa de ovo (MO), respetivamente.
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi desenvolver um modelo fatorial que permita determinar as exigências de cálcio e fósforo para frangas em crescimento e galinhas de postura, considerando tanto as necessidades fisiológicas quanto as demandas produtivas.
“Concluimos que a exigência nutricional para Ca e P pode ser desenvolvido seguindo a abordagem do modelo fatorial, sendo que é possível descrever o particionamento das exigências nutricionais para mantença, crescimento e produção”.
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