Aposta de desaceleração do preço de alimentos ganha força

Serviços e tarifas administradas devem ser fatores mais importantes para determinar a trajetória do IPCA daqui em diante

O choque de custos no atacado que vem pressionando a inflação ao consumidor desde meados do ano passado deu sinais mais fortes de dissipação no começo de julho, quando o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) desacelerou a 0,18%, menor taxa em 14 meses. A principal influência de baixa ante junho, quando o índice subiu 2,32%, partiu dos preços agropecuários: eles recuaram 2,6%, vindo de aumento de 0,92%. Na média, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) deixou alta de 2,64% e caiu 0,07%.

Os dados foram divulgados na sexta pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo economistas, o alívio vindo do atacado neste primeiro momento está concentrado em commodities agrícolas, o que reforça perspectivas de descompressão dos alimentos no varejo. A recomposição de preços de serviços e reajustes maiores de tarifas administradas, no entanto, seriam fatores mais importantes para determinar a trajetória do IPCA daqui em diante, e eles seguem apontando inflação acima de 6% no ano. O teto da meta para 2021 é 5,25%.

A recente valorização do real ajudou a reduzir preços de commodities no mercado interno, o que derrubou a inflação no atacado, afirmou Matheus Peçanha, economista da FGV. “No caso do complexo soja, quase todos os itens relacionados caíram de preço”, notou Peçanha, acrescentando que a alta da Selic tornou o Brasil mais atrativo para a entrada de dólar, o que ajudou a apreciar a divisa nacional.

Houve queda em vários preços agropecuários no IGP-10 em julho, observa Fabio Romão, economista da LCA Consultores, como arroz (-12,5%), soja (-9%), milho (-8,5%) e trigo (-5,8%). “Os produtos agropecuários confirmaram a expectativa de que haveria arrefecimento em algum momento, embora a maior parte dos preços continue acima do patamar pré-pandemia”, ponderou. “De qualquer modo, essa devolução parcial dos preços vai contribuir para tirar um pouco do mal estar com a inflação de alimentos ao consumidor.”

Romão trabalha com aumento de 5,6% para a parte de alimentação no domicílio dentro do IPCA em 2021. Nos 12 meses até junho, esses itens subiram 15,3%, e terminaram 2020 com avanço de 18,2%. Segundo ele, o IPA-agro não deve se sustentar em terreno negativo até o fim do mês, mas o auge da pressão de commodities agrícolas na inflação parece ter ficado para trás. Em suas estimativas, os preços agropecuários no atacado vão subir 12,7% neste ano, bastante abaixo da inflação de 56,2% registrada em 2020.

Flávio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, pondera que houve aceleração no atacado de leite in natura, aves e bovinos, que têm peso relevante na formação de preços de alimentos no varejo. Do lado dos bens industriais – cuja alta arrefeceu de 3,34% a 0,92% na passagem mensal – nem todo o choque ao produtor foi repassado aos preços finais, aponta Serrano, o que pode ocorrer a depender do ritmo em que a ociosidade na economia diminuir. No ano terminado em julho, o IPA industrial aumentou 44,2%.

Para ele, porém, o maior vetor inflacionário ao consumidor no curto prazo ainda será a tarifa de energia elétrica, que deve responder por 0,23 ponto percentual da alta do IPCA neste mês, prevista entre 0,7% e 0,8%. As contas de luz devem subir mais devido ao aumento do adicional da bandeira vermelha patamar 2 e ao reajuste tarifário da Enel, distribuidora de São Paulo.

Passado o pico da pressão de tarifas administradas, as taxas mensais do IPCA tendem a ficar mais comportadas, mas a dinâmica inflacionária vai depender mais do ritmo de reabertura das atividades com o avanço da vacinação, avalia Serrano. Nesse contexto, a perda de ímpeto dos índices do atacado é uma boa notícia, mas deve ter influência secundária sobre os preços ao consumidor, diz o economista, para quem o IPCA vai subir 6,2% em 2021. “A economia está com certa ociosidade, mas está em processo de reabertura, e isso pode criar pequenos desequilíbrios.”

De junho para julho, o Índice de Preços ao Consumidor – 10 (IPC-10), que responde por 30% dos IGPs, pouco desacelerou, de 0,72% a 0,70%. Permaneceram em alta preços como tarifa de eletricidade residencial (3,86%) e gasolina (1,42%), notou Peçanha, para quem a perda de fôlego no atacado ajudou em parte a conter a inflação no varejo.

Romão, da LCA, espera que o IPCA suba 6,4% neste ano, influenciado por reaceleração dos serviços, ainda que os preços continuem correndo bem abaixo da inflação total (3,5%), e pelo encarecimento da energia elétrica. Já nos bens industriais, diferentemente da expectativa para alimentos, a descompressão deve ser mais lenta, destaca o economista: esses preços aumentaram 8,7% nos 12 meses encerrados em junho e devem terminar 2021 com alta de 7% em seus cálculos.

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