Avicultores apostam em inovação e boas práticas para enfrentar os desafios sanitários e garantir a qualidade e transparência na cadeia produtiva.
A segurança alimentar na cadeia produtiva da avicultura tem passado por transformações significativas nos últimos anos, impulsionadas por avanços tecnológicos e científicos que visam garantir produtos mais seguros para o consumidor final. A Avicultura 4.0 foi um dos principais motores dessa modernização, trazendo inovações que permitam o monitoramento preciso das condições ambientais nas granjas e um maior controle sobre o bem-estar e sanidade das aves e a biossegurança. Atualmente, o setor está entrando em uma nova fase: a Avicultura 5.0, que agrega ao cenário a adoção de tecnologias para autonomia e integração da cadeia produtiva. Essa nova abordagem foca em como os profissionais da cadeia produtiva interagem com as tecnologias, visando uma produção mais sustentável, com práticas que promovem o bem-estar animal e a preservação ambiental de forma integrada e eficiente.
A médica veterinária Jackelyne Soares Bisi, especialista em produção avícola, destaca a importância da implementação de sensores automáticos para regular parâmetros como temperatura, umidade, velocidade de vento, intensidade luminosa e gases nas instalações aviárias, juntamente com práticas rigorosas de biosseguridade, que são essenciais para prevenir doenças graves, como exemplo a Influenza Aviária, e reduzir riscos sanitários. “Hoje, a tecnologia permite um acompanhamento em tempo real das condições do ambiente e da sanidade das aves, tornando a produção mais eficiente e segura”, afirma. Outro ponto, constantemente levantado por especialistas é o papel da rastreabilidade e transparência na cadeia produtiva, que são essenciais para garantir a segurança alimentar, a qualidade dos produtos e a confiança do consumidor, pois possibilitam o acompanhamento de todas as fases da produção: a identificação e correção de eventuais falhas.
*Jackelyne Soares Bisi é médica veterinária especialista em produção avícola e saúde coletiva, com experiência em tecnologia e processamento de produtos de origem animal. Atualmente, exerce a função de pesquisadora clínica com foco em sanidade avícola.
Contudo, Jackelyne ressalta que a efetividade da rastreabilidade depende da implementação consistente e da integração de sistemas ao longo de toda a cadeia produtiva. “Embora seja uma ferramenta eficaz, a rastreabilidade não pode ser considerada suficiente por si só; deve ser complementada com boas práticas de manejo, controle de qualidade e formação contínua dos profissionais envolvidos”, conclui.
Outro aspecto importante nesse processo de evolução é a capacitação profissional. A atualização constante sobre boas práticas e novas exigências regulatórias torna-se indispensável para atender às demandas da indústria e garantir a conformidade dos produtos com padrões cada vez mais rigorosos.
Neste cenário, a sustentabilidade tem se tornado uma prioridade crescente na avicultura, impulsionando o uso responsável da água, a gestão eficiente dos resíduos e a busca por soluções que minimizem os impactos ambientais, reforçando o compromisso do setor com uma produção mais sustentável e confiável. Paralelamente, a resistência antimicrobiana, consequência do uso inadequado de antibióticos, segue como uma preocupação, afetando tanto a saúde animal quanto a segurança do consumidor.
Para enfrentar esse desafio, investimentos em pesquisa e inovação têm possibilitado o desenvolvimento de vacinas mais eficazes e métodos preventivos que reduzem a necessidade do uso de antibióticos, garantindo uma produção de carne de frango e ovos mais segura e alinhada às expectativas dos consumidores. “A modernização da avicultura é um esforço conjunto que envolve tecnologia, conhecimento e comprometimento contínuo”, destaca a especialista. Mesmo com os avanços tecnológicos, a avicultura ainda enfrenta desafios significativos para garantir a segurança alimentar, o bem-estar das aves e a viabilidade econômica. Segundo a médica veterinária, questões econômicas, como oscilações nos custos de produção e a escassez de mão de obra qualificada, impactam diretamente a viabilidade e a competitividade da avicultura.
Monitoramento inteligente e rastreabilidade: a revolução na segurança alimentar
O setor avícola tem incorporado diversas tecnologias para minimizar riscos e aprimorar a segurança alimentar. Sistemas de monitoramento em tempo real, equipados com sensores e Internet das Coisas (IoT), permitem a detecção precoce de anomalias ambientais e problemas de saúde nas aves, possibilitando intervenções rápidas e eficientes. A análise de dados em conjunto com a inteligência artificial antecipa surtos e otimiza a produção, enquanto a biotecnologia permite a criação de vacinas mais eficazes e diagnósticos rápidos. Já a automação, nos processos de distribuição de ração, água e a limpeza das instalações, melhora a eficiência produtiva e reduz riscos de contaminação.
Outra inovação que tem se destacado é a rastreabilidade baseada em blockchain. Essa tecnologia assegura a transparência da cadeia produtiva, registrando cada etapa desde a produção até a chegada do produto final ao consumidor. O uso de plataformas digitais integradas para gestão da saúde animal também vem fortalecendo o monitoramento sanitário, permitindo um acompanhamento mais preciso e eficiente. Jackelyne ressalta que a capacitação contínua dos colaboradores é indispensável para a implementação bem-sucedida dessas inovações. “A tecnologia só se torna eficaz quando os profissionais envolvidos estão preparados para utilizá-la da melhor forma possível. garantindo a otimização dos processos e a melhoria da segurança alimentar e sanitária”, afirma.