Para haver maior equilíbrio na cadeia produtiva brasileira de qualquer país, é necessário previsibilidade e planejamento, explica em entrevista exclusiva à MundoAgro, Veneziano Araújo, coordenador do curso de Economia da Faculdade Belavista.
O aumento dos preços dos alimentos se tornou um dos principais fatores da inflação em 2024. O grupo Alimentação e Bebidas foi responsável por mais de um terço da alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dados recentes do IBGE mostram que os alimentos evitaram uma possível deflação em janeiro. A inflação no setor atingiu 1,06% no mês e elevou o índice geral em 0,23 ponto percentual. O tomate registrou alta de 17,12% e o café moído, de 7,07%, enquanto a batata-inglesa caiu 14,16% e o leite longa vida, 2,81%.
Paralelamente, o governo federal adota medidas para conter a inflação alimentar e garantir o acesso da população a produtos básicos. Entre as ações discutidas em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros, destaca-se a redução da alíquota de importação de produtos com preços elevados no mercado interno em relação ao internacional.
Fatores climáticos adversos, como calor intenso e seca, também afetam a produção agrícola, elevando os preços de alimentos básicos no país.
A MundoAgro foi conversar com exclusividade com Veneziano Araújo, coordenador do curso de Economia da Faculdade Belavista para entender o impacto no processo produtivo de proteína animal e se é possível um equilíbrio maior para os produtores de alimentos.
MundoAgro: Qual sua análise sobre o impacto da alta dos alimentos no consumidor, abordando a capacidade de compra das famílias e os reflexos no orçamento das empresas? Como é possível equilibrar essa conta entre o processo produtivo x consumo interno x exportação?
Veneziano Araújo: A alta dos alimentos no Brasil tem impactado diretamente a capacidade de compra das famílias, especialmente as de baixa renda, que destinam uma parcela maior do orçamento para alimentação. O aumento nos preços de itens básicos como arroz, feijão, carne e leite tem levado consumidores a buscarem substituições mais acessíveis. Para as empresas, a elevação nos custos de produção e logística, em parte devido ao aumento dos preços de insumos, combustíveis e fertilizantes, reduz margens de lucro e pode resultar em reajustes nos preços finais.
No Brasil, o equilíbrio entre produção, consumo interno e exportação é um desafio, especialmente em setores como o da soja e carne bovina. O alto volume de exportações, impulsionado pela demanda da China, pressiona os preços internos. Políticas de incentivo ao abastecimento interno, como estoques reguladores e redução de tributação em determinados períodos, podem ajudar a minimizar os impactos. Mas isso depende da iniciativa do Governo.
MundoAgro: É possível que o funcionamento da cadeia produtiva seja mais equilibrada do ponto de vista entre oferta e demanda? Como este funcionamento afeta a variação dos preços diretos ao consumidor? E para os produtores de alimentos? Como se permanecer economicamente sustentável nesse embate econômico?
Veneziano Araújo: O equilíbrio da cadeia agrícola é sempre um desafio. Há muitos imponderáveis, entre eles um dos maiores é o próprio clima. Para haver maior equilíbrio na cadeia produtiva brasileira de qualquer país, é necessário previsibilidade e planejamento. Além disso, há relações entre mercados. Por exemplo, setores como o de milho e soja são fundamentais para a produção de ração animal, influenciando diretamente nos preços dos ovos, da carne de frango e suína.
Reitero que oferta e demanda podem ser ajustadas através de medidas como diversificação de cultivos, controle de estoques e incentivo à produção. Para os consumidores, a oscilação de preços impacta o poder de compra, enquanto os produtores precisam lidar com custos elevados de insumos como fertilizantes e combustíveis.
O caminho para a sustentabilidade econômica no Brasil exige mecanização, acesso a crédito e seguros agrícolas para mitigar riscos.
MundoAgro: Como o senhor avalia as estratégias do setor produtivo diante da inflação alimentar e da volatilidade dos preços?
Veneziano Araújo: Diante da volatilidade dos preços, o setor produtivo brasileiro tem investido em tecnologia para reduzir custos. No segmento de carne bovina, grandes frigoríficos têm ampliado a rastreabilidade e otimizado a logística para reduzir perdas. No setor de grãos, eles buscam negociar conjuntamente insumos a preços mais competitivos.
Estratégias como contratos de longo prazo e hedge no mercado de futuros têm sido amplamente utilizadas para mitigar riscos. Alianças entre produtores e indústrias garantem previsibilidade de preços e oferta.
MundoAgro: Quais são as tendências de sustentabilidade e inovação no setor alimentício e seus reflexos econômicos visando o equilíbrio econômico do país e também do produtor de alimentos, principalmente o de produção de proteína animal?
Veneziano Araújo: No Brasil, a produção de proteína animal está investindo em soluções sustentáveis para atender às exigências do mercado internacional. Grandes produtores de carne têm adotado alimentação animal com menor impacto ambiental, enquanto startups de biotecnologia desenvolvem rações alternativas.
O setor também tem investido na rastreabilidade da produção, garantindo maior transparência ao consumidor e atendendo às exigências de mercados como a União Europeia. Essas tendências geram eficiência econômica e diferenciam os produtos brasileiros no mercado internacional.