A Cooperativa Languiru apresentou resultados recordes no exercício 2020, com o maior faturamento bruto da sua história, de R$ 1,844 bilhão, sobras de R$ 10,9 milhões e crescimento de 27,9%. Segundo o presidente Dirceu Bayer, o sucesso da cooperativa em 2020 se deu em razão do casamento entre baixos custos de produção e altos preços no setor de carnes – carro-chefe da cooperativa, que deve metade do seu faturamento à avicultura e à suinocultura. No primeiro semestre deste ano, este cenário se inverteu e a Languiru se viu obrigada a reduzir pela metade o alojamento de aves. Nesta entrevista, Bayer conta a estratégia utilizada pela cooperativa para driblar os altos custos de produção e porque a expectativa é positiva para o segundo semestre deste ano.
Como a Languiru conseguiu obter faturamento recorde em meio a um ano de crise?
Dirceu Bayer – No exercício de 2020, tivemos o melhor resultado da história. Isso porque os setores de carnes tiveram muito bom desempenho. Especialmente a suinocultura, que chegou a preços históricos até então nunca vistos. E o frango se manteve estável durante um período. Então, preços altos a nível de varejo e custos de produção baixos. Foi a combinação que justifica o bom resultado. No entanto, nesse primeiro semestre, essa curva se inverteu. Agora temos custos muito altos, com o preço do milho 100% superior ao do ano passado, e a soja também valorizada. De outro lado, os preços não reagiram durante esses cinco meses – exatamente o inverso do ano anterior. Nessa combinação, houve resultados ruins, que só não foram piores porque reduzimos o alojamento de aves em 50%. No ano anterior, abatíamos em torno de 145 mil aves por dia. Em função dessa situação ruim, abatemos 75 mil aves por dia. Para os próximos meses, estamos com uma expectativa melhor, principalmente na avicultura. Parece que o consumidor está migrando finalmente para as proteínas mais baratas, o que gera uma reação nos preços do frango, embora os custos ainda estejam altos. Mas estamos próximos do equilíbrio de resultado. Na suinocultura, a dificuldade ainda existe em termos de resultados por causa dos altos custos de insumos. Além da redução de alojamento, adotamos medidas como a compra de milho num momento oportuno, no início do ano, com bons preços e temos estoque até o início da próxima safra. Por conta dessa política, temos uma expectativa melhor para o segundo semestre.
Quais são as áreas de atuação e a participação no faturamento de cada uma delas?
Bayer – Nós temos três setores macro (Avicultura, Suinocultura e Laticínios) que, em média, representam 25% do faturamento da cooperativa cada um, variando. Equivale a mais ou menos 70% em média. Os 30% restante dependem de outros segmentos, porque a Languiru é a cooperativa mais diversificada do Brasil. No Estado, não tem igual: temos indústrias de aves, suínos, leite e ainda fábrica de rações. São quatro indústrias. Nossa rede é composta por 10 supermercados, 10 agrocenters, postos de combustíveis, farmácias. Temos venda de rações e nutrição animal para todo o Estado. Vendemos produto embutido. Esses outros setores representam em torno de 30% do faturamento, e eles não são sujeitos a clima, setor sanitário, câmbio. Eles sempre apresentam resultado bom. Isso é importante quando um setor macro entra em crise, o que aconteceu nesses primeiros meses do ano. São 45 unidades estratégicas de negócio. A cooperativa tem o princípio de agregar valor à matéria-prima. Nós compramos o milho que é produzido pelas cooperativas para transformar numa gama de praticamente 500 produtos diferenciados, nas áreas de nutrição, leite, agro e suínos. E para isso se precisa de mais mão-de-obra. Nós temos 3,4 mil funcionários. Faturamos, no ano passado, R$ 1,84 bilhão. Ou seja, crescimento de 27,9%. E esse ano estimamos chegar a 34% de aumento. Acreditamos muito nesse sistema: se mais indústrias transformassem matéria-prima em produtos de valor agregado, estaríamos gerando muito mais empregos, mais riqueza e mais impostos.
A produção pode voltar aos níveis anteriores?
Bayer – A partir de julho, vamos retomar toda a produção de aves. Vamos acionar todos os mecanismos novamente para chegar a 130 mil aves, quando vamos retomar o alojamento, numa situação de preços melhores. E com a garantia de milho com essa compra antecipada. Enquanto os produtores deixaram de alojar, a Languiru os remunerou como se estivessem produzindo. Era melhor pagar a taxa para eles do que continuar insistindo em alojar o frango. É mais barato deixar o aviário parado e continuar pagando o produtor. Isso é um ato que acontece em uma cooperativa que tem compromisso com seu associado.
Pode se repetir estratégia de comprar milho antecipado caso custos continuem altos?
Bayer – Vamos aguardar a próxima safra, que está iniciando agora em agosto, setembro. Talvez tenhamos uma produção melhor no Estado. No ano passado houve uma queda de 3 milhões de toneladas no estado. A produção de milho do Estado é em torno de 6,5 milhões de toneladas e colhemos apenas 3,5 milhões. Dependendo da safra, a decisão de comprar antecipado pode ser positiva ou negativa. Se os preços do milho baixarem em relação aos preços que tu define seria ruim. O inverso ocorreu agora nessa safra: compramos com preços baixos e o mercado sinaliza com preços muito acima. Sempre é um risco.
Quais outros meios para driblar o alto custo de produção além da compra antecipada do milho?
Bayer – É difícil, pois o mercado regula isso. Se houver oferta maior, os preços caem. Nesse momento estamos vendo uma queda no preço da soja e do milho. Mas nunca mais os preços vão chegar aos patamares de antes da pandemia, de R$ 50,00, R$ 60,00 por saca de milho… esquece. Não vai mais acontecer. Assim como os preços de venda também não vão mais baixar. A tendência é aumentar o preço do frango, até para recuperar prejuízos anteriores, e o frango ainda tem que aumentar mais para chegarmos ao equilíbrio. Nossa expectativa, com afrouxamento dos protocolos da pandemia, é o mercado começar a melhorar, comércio começar a comprar, as empresas a adquirirem produtos. Existe essa tendência, por conta do alto preço da carne do boi, de o consumidor mudar para carnes mais baratas.
Por que o senhor acredita que os preços e os custos de produção não retornarão a patamares de antes da pandemia?
Bayer – A situação é outra. Depois da pandemia, todos setores da economia aumentaram os seus preços. Tal prova é que a inflação é uma preocupação do governo. E a questão do câmbio, também, que está em baixa… ele remunera menos a exportação. Uma série de fatores. É uma posição minha, mas eu não acredito que os preços voltem aos patamares anteriores.
No que o modelo de cooperativismo ajudou a Languiru a manter bons resultados mesmo em meio a tantas crises?
Bayer – Foi um fator decisivo. Durante esses meses que não havia mais milho no Estado, com a seca, parte do milho usado pela Languiru nós emprestamos das cooperativas que ainda tinham estoque. E agora vamos devolver a custos menores. Esse é um ato que só as cooperativas conseguem fazer. E a Languiru está muito bem alinhada às demais cooperativas do Estado. A gente participa do conselho de administração da Fecoagro, que congrega todas essas cooperativas. Existe essa empatia no sistema.