Segundo análise divulgada hoje pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em 2020, os preços dos alimentos foram influenciados fortemente pelo dólar, que acarreta, especialmente, em elevação dos custos de produção e que favorece as exportações do agronegócio. Pesaram também na alta dos preços dos alimentos em 2020 as mudanças nos padrões de consumo associadas à pandemia, o timing e o montante bastante alto da transferência pública de renda (auxílio emergencial), os desarranjos das cadeias produtivas, problemas climáticos e a elevação dos preços internacionais das commodities.
Para 2021, apesar da certa estabilidade nos preços dos alimentos, estes permanecem elevados. De um modo geral, os destaques das quedas de preços nos oito primeiros meses deste ano são para arroz, óleo de soja, batata, tomate e feijão carioca. No caso das carnes, o movimento segue sendo de alta, mas de forma menos intensa. Por outro lado, o açúcar tem se valorizado com força, assim como fubá e mandioca. Nestes casos, pesquisadores do Cepea ressaltam que problemas climáticos reduziram o volume estimado de produção – especialmente de cana, café, milho e feijão –, além de terem prejudicado as pastagens. Com isso, os preços das carnes também foram influenciados pelo lado dos insumos – grãos, basicamente – e diretamente pelo clima. Ainda, a exportação do agronegócio até 15% maior do que em 2020 sinaliza para sustentação no custo da alimentação.
Quanto à inflação geral, em 2021, vem sendo turbinada pelo aumento – como mostra a pesquisa Focus, do Banco Central – da expectativa de inflação. O Banco Central se viu na necessidade de iniciar uma escalada nos juros. O aumento das expectativas é altamente preocupante, pois tende a provocar overshooting (aumento mais do que proporcional) da inflação.
A desancoragem das expectativas pode ser atribuída à percepção dos agentes de mercado de que a credibilidade do Banco Central não seria suficiente para conter a alta de preços provocada pelos problemas nas cadeias produtivas domésticas e pela alta dos preços internacionais, mas, principalmente, pela aceleração, fora do controle, do dólar em 2020. Essa alta da moeda norte-americana (e permanência em nível muito elevado) no Brasil foi e é, em grande medida, devida ao aumento do risco-país em vista da insegurança decorrente do comportamento imprevisível das instituições – envolvendo os três poderes da República – cujos embates afastam os investidores estrangeiros. Mesmo o investimento por brasileiros fica limitado, como indicam os dados do IBGE.
Não está claro, no horizonte de médio prazo, como e quando esse quadro nefasto será superado. As normalizações do dólar e dos juros ficam na dependência de uma reviravolta institucional que aumente a segurança e reduza os custos de fazer negócios no Brasil.
Pesquisadores do Cepea indicam que, como consequência, percebe-se que o processo de aceleração inflacionária de 2021 é menos associado aos choques de oferta e desarranjos das cadeias produtivas – que permanecem, é claro – e mais relacionado à uma agressiva difusão da alta de preços para os diversos setores econômicos da economia doméstica. Os agentes procuram elevar – na medida que a recessão permite – seus preços, tendo em vista tanto a recomposição devido à alta passada da inflação como também preventivamente diante das expectativas de alta que, assim, vão se confirmando. Esse processo é consequência do quadro institucional problemático que campeia no Brasil. A elevação dos juros é a única arma disponível ao setor público, mas tem elevados custos sociais (desemprego e queda de renda) e financeiros (aumentos do custo da dívida pública) e econômicos (desestímulo ao investimento e ao consumo de duráveis). Ademais, o efeito dos juros altos sobre o controle da inflação é tipicamente demorado, demandando recessão forte e prolongada – até vários anos – antes que surta o efeito desejado.
Num quadro de inflação alta e renitente maior agilidade e eficiência em programas de médio prazo (e não improvisados) de transferência de renda são imprescindíveis para que não recaia sobre os mais pobres os custos da incompetência das instituições de agirem harmonicamente e promoverem as reformas de que o Brasil tanto necessita para um futuro com mais renda e menor pobreza e desigualdade.
Fonte: Cepea
Autor: Assessoria de comunicação