A semana termina com um bom volume de soja negociado pelo Brasil. De acordo com a Brandalizze Consulting, foram cerca de 1,2 milhão de toneladas, entre safra velha e nova, sendo este “um bom número para o período do ano”, como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze. Apesar da volatilidade intensa registrada na Bolsa de Chicago e do dólar mais baixo do que há algumas semanas, os sojicultores aproveitaram os bons momentos e bons preços ofertados nesta semana.
“A semana foi boa. E o produtor, que se assustou com as baixas da semana passada, resolveu participar um pouco mais do mercado e fez bons negócios”, explica o consultor. “E há muitos que têm compromissos financeiros agora para junho, julho, que também aproveitaram o momento”, complementa, dizendo ainda que a maior parte da oleaginosa negociada nestes últimos dias deverão ser embarcadas entre julho e setembro.
A soja da safra nova foi negociada em um intervalo de R$ 174,00 a R$ 178,00 por saca, a depender do prazo de embarque e pagamento. Já para a safra nova, as referências oscilaram entre R$ 167,00 e R$ 168,00 por saca. Os preços são importantes, remuneradores, e consolidaram mesmo diante de um dólar que chamou a atenção, se aproximando dos R$ 5,00.
Nesta sexta-feira (11), apesar das perdas intensas sendo registradas na Bolsa de Chicago, que ficaram entre 20,50 e 35,50 pontos, a moeda americana subiu cerca de 1% frente à brasileira, voltando para perto de R$ 5,12 e ajudou também na formação das cotações. Ao lado da questão, cambial os prêmios melhores para meses mais a frente também favoreceram a formação dos indicativos.
“Os prêmios no spot estão começando a melhorar, apesar de ainda estarem negativos nas primeiras posições. Os prêmios do primeiro semestre ficaram pressionados por conta da oferta, colhemos uma safra recorde, que surpreendeu a todo mundo, tem oferta em todo lugar no Brasil”, explica Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da Safras & Mercado.
Assim, na medida em que se aproxima o segundo semestre, os prêmios começam a melhorar. Já há valores bem melhores sendo praticados para agosto – acima de 50 cents de dólar sobre Chicago – setembro – 100 cents – e melhorando. “Conforme a oferta vai diminuindo para os últimos meses do ano, os prêmios vão melhorando. Até porque o prêmio para a soja americana estão elevados, com a entrada de safra, setembro, 60 cents acima”, complementa Gutierrez.
E essa sinalização de prêmios melhores ajuda a confirmar um movimento do produtor brasileiro de segurar um pouco mais de suas vendas agora, esperando para especular um pouco mais no segundo semestre com a safra nova dos Estados Unidos, de olho nas condições de clima para o Corn Belt nestes próximos meses que são determinantes para o desenvolvimento das lavouras.
“Há uma demanda importante para exportação, a demanda para o mercado interno, mas o ritmo de negócios ainda é lento se comparados aos primeiros meses do ano”, afirma Gutierrez.
Nesta semana, a Consultoria DATAGRO trouxe um levantamento atualizado sobre a comercialização da soja que mostra que 76,3% da safra atual já foi comprometida.
“A comercialização da safra 2020/21 da soja brasileira avançou apenas 4,5% no mês passado, abaixo dos 9,1% do padrão normal para o período, apesar de já ter atingido 76,3% da produção estimada até o último dia 4 de junho, resultado abaixo dos 87,5% do fluxo recorde da safra passada, mas acima da média de 73,4% dos últimos 5 anos para o período”, informa a empresa.
Para a temporada 2021/22, o índice é de 17,4%, acima dos 15,1% da média de 5 anos, mas inferior aos 33,1% do recorde anterior, ocorrido em igual momento de 2020.
“Segundo a projeção preliminar, que considera área maior em 2,9%, clima razoavelmente regular e produtividade dentro da normalidade, a safra brasileira do próximo ano tem potencial para atingir 141,18 mi de t, sendo assim, teríamos 24,55 mi de t comercializadas antecipadamente pelos sojicultores brasileiros. Volume muito inferior aos 45,34 mi de t desta mesma época no ano passado”.
BOLSA DE CHICAGO
Em relação à última sexta-feira, o contrato julho/21 da soja na Bolsa de Chicago recuou 4,74%, passando de US$ 15,83 para US$ 15,08 por bushel no fechamento deste 11 de junho. Jà o novembro subiu 0,21%, saindo de US$ 14,35 para US$ 14,38 por bushel. O clima no Meio-Oeste americano foi protagonista na semana, porém, no meio do caminho informações sobre o mercado do óleo de soja e do biodiesele nos EUA e o novo boletim mensal de oferta e demanda divulgado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) tiveram forte influência nas cotações.
Nesta sexta, os futuros do óleo de soja negociados na Bolsa de Chicago chegaram a bater no limite de baixa, pressionando também a soja em grão. O derivado fechou o pregão com perdas de mais de 4% nos principais contratos, levando o julho a 66,98 cents de dólar por libra-peso e o setembro a 65,01 cents/lb.
“Joe Biden está sob pressão das refinarias norte-americanas. A falta de óleo de soja está puxando o preço dos certificados de produção de biodiesel nos EUA. E a refinaria nos EUA quando não quer misturar o biodiesel tem de comprar esses certificados e o preço vai subindo”, explicou o analista de mercado da Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin.
Assim como aqui no Brasil foi reduzido o mandatório do biodiesel de 13% para 10%, algo semelhante pode ser observado nos EUA, reduzir o consumo de óleo de soja e, especulando sobre isso, os preços caíram expressivamente no mercado futuro.