O agronegócio brasileiro exportou mais de US$ 100 bilhões em 2020, e a alta do dólar ampliou a receita com os embarques, mas isso não significa que as margens dos exportadores melhoraram. Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dos dez principais produtos agropecuários que o Brasil vendeu ao exterior, apenas as carnes bovina e suína e o café tiveram preço médio em dólar maior no ano passado que em 2019. Todos os demais recuaram. A queda no setor foi, em média, de 4,7%.
“Quando observamos o resultado em termos de volume e valores absolutos identificamos o crescimento, mas o preço médio recebido nos preocupa”, disse a pesquisadora associada da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Ana Cecília Kreter. “Estamos exportando bem, temos conseguido manter ou exportar mais, mas o que estamos recebendo, na prática, é muito menor”.
Segundo ela, o quadro não é pontual ou reflexo apenas da pandemia, e sim uma tendência observada nos últimos anos – e que deve se manter em 2021. “Se não houver uma queda acentuada nos preços já será um bom ano, mas a perspectiva é ruim”, afirma.
Apesar do aumento expressivo do preço da soja na bolsa de Chicago, o preço médio das exportações brasileiras caiu 2,2% em 2020 na comparação com 2019. As vendas do país subiram de 74 milhões para 83 milhões de toneladas, mas o faturamento não cresceu na mesma proporção, tendo passado de R$ 26 bilhões para R$ 28,5 bilhões.
O recuo dos preços médios foi ainda mais intenso nas vendas de celulose (-24,5%), carne de frango (-13,1%) e algodão (-7.2%). As cotações médias do açúcar, farelo de soja e milho recuaram menos, enquanto café, carne bovina e carne suína tiveram altas de 0,8%, 3% e 4%, respectivamente.
Em parte, esse quadro deve-se à alta dos custos de produção, principalmente com a importação de insumos em dólar. A venda antecipada das commodities por valor menor que o da data efetiva da exportação também contribuiu para a queda dos preços médios.
O complexo soja e as carnes seguirão dominando a pauta exportadora em 2021, com possibilidades de manutenção ou mesmo de aumento das vendas. O arrefecimento na guerra comercial entre Estados Unidos e China, por sua vez, não deve tirar mercado dos produtos brasileiros, avalia a pesquisadora.