Uma das prioridades da BRF para alcançar o ambicioso plano de triplicar de faturamento até 2030, as proteínas vegetais que imitam o sabor da carne começam a ganhar escala na companhia. Depois de uma estreia tímida no ano passado, importando nuggets e hambúrguer vegetal da Holanda, a companhia desenvolveu tecnologia local para explorar a força da Sadia no mundo plant-based.
Sem o câmbio na equação, o que vinha tirando competitividade dos itens importados da linha Veg&Tal, a BRF ganha musculatura para competir em melhores condições com Seara e Fazenda Futuro, que lideram o ainda incipiente – mas promissor – mercado de plant-based no Brasil.
“Sem dúvida, o dólar é uma barreira grande para oferecer um produto mais competitivo, além do tema logístico”, disse Marcel Sacco, vice-presidente de novos negócios da BRF.
O executivo, que assumiu o cargo há menos de um mês, ressalta que a produção nacional também dá mais flexibilidade para a Sadia responder à demanda. “Ninguém sabe onde está o teto desse mercado”, afirma. A expectativa na BRF é que as vendas da linha Veg&Tal cresçam nove vezes em 2021.
A nacionalização da produção também coincide com a estratégia mais intensa de lançamentos da BRF. Ainda em maio, a almôndega vegetal da Sadia chega às gôndolas. Quibe e carne moída feitos a partir de proteína de soja serão lançados até julho, afirmou Sacco.
A troca do hambúrguer e dos nuggets importados – os itens eram preparados pela holandesa Vivera, que foi vendida recentemente à JBS por R$ 2,2 bilhões – pelos nacionais deve ocorrer dentro de um mês e meio. O prazo depende do escoamento do atual estoque de produtos importados.
A aparente demora da BRF no desenvolvimento de uma tecnologia própria de plantbased fazia parte dos planos. Os trabalhos começaram ainda em 2019, quando várias outras companhias se lançaram no mercado.
“Vimos uma superpopulação que não entregava qualidade de produtos de que uma marca como a Sadia precisa. Por isso, fizemos um desenvolvimento mais longevo”, justificou Sérgio Pinto, diretor de inovação.
Em outra frente, a companhia também desenvolveu, em parceria com a Embrapa e a R&S Blumos, um frango vegano feito a partir de feijão. O produto é vendido em tiras, cubos e desfiado.
A opção da BRF por trabalhar com parceiros no desenvolvimento do negócio plantbased – o hambúrguer será produzido por um fornecedor de Santa Catarina -, é parte da estratégia para aproveitar as competências de um mundo tecnológico em ebulição.
Com esse intuito, a empresa firmou uma parceria com a israelense Aleph para lançar uma carne bovina de laboratório em 2024. “A BRF não acredita no modelo verticalizado, no qual só os talentos internos são importantes”, diz Pinto. “A quantidade de talento no mundo é abundante”.