Em resumo, foi o que disse ontem Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em mais uma Live do Valor desta semana especial dedicada ao agro, que está sendo realizada em parceria com a revista Globo Rural. A ABPA representa a indústria brasileira de aves, suínos e ovos, e empresas como BRF, Seara (JBS) e Aurora.
“O movimento da China, que também suspendeu o embargo sobre a carne bovina do Brasil, no geral foi positivo. A retomada da tarifa sobre a carne suína pode diminuir o perfil de troca entre Brasil e China, mas não é uma tarifa proibitiva – e nossos concorrentes, como União Europeia e EUA, também têm a mesma taxa. No caso dos americanos, é até maior”, lembrou Santin.
O dirigente reforçou, também, que o segmento tem buscado outros mercados para se tornar menos dependente dos chineses – no caso da carne suína, 52% dos embarques têm sido direcionados ao país asiático, e no caso da carne de frango o percentual é de cerca de 17%.
“Temos alternativas. A Rússia está voltando [às compras], com uma cota de 100 mil toneladas de carne suína. Temos ainda a peste suína africana e a influenza aviária em outros países. Enxergo um perfil ainda positivo para as exportações em 2022”, afirmou. A previsão da ABPA é que os embarques de carnes suína e de frango cresçam 10% neste ano.
De janeiro a novembro, as exportações de carne suína já bateram recorde em faturamento e volume. Foram embarcadas 1,1 milhão de toneladas, alta de 11,3% sobre igual intervalo de 2020 – que era a maior marca até então. A receita chegou a US$ 2,45 bilhões, com aumento de 17,8%. No caso da carne de frango, nos 11 primeiros meses do ano as exportações cresceram 9,1%, para 4,2 milhões de toneladas, com receita de US$ 6,94 bilhões (alta de 25,3%).
Mas Santin fez questão de lembrar que, apesar da importância das exportações, o mercado interno ainda é, de longe, o principal para o segmento. “O maior mercado do Brasil é o próprio Brasil”. Nesse contexto, e diante das incertezas que rondam a economia brasileira, o presidente da ABPA sustenta que o cenário para o consumo interno continua positivo, especialmente diante da competitividade frente à carne bovina, proteína mais cara e cujo consumo está retraído em decorrência da queda do poder aquisitivo da população.
O problema são os custos de produção, que ainda serão uma pedra no sapato do segmento em 2022 e tendem a manter elevados os preços dos produtores ao consumidor. “Não dá para falar de maneira geral como será o repasse de preços, porque cada indústria tem um tamanho e uma estratégia. Mas os custos subiram demais. Algumas empresas conseguiram se adequar, mas muitas vão começar 2022 precisando repassar, não tem retrocesso”, disse.
Como alento, Santin também disse que a pior da fase de alta dos custos de produção já passou, e que estabilidade e previsibilidade dos gastos deverão ser uma tendência a partir do ano que vem. “Temos uma previsão de safrinha de milho grande e mais estabilidade. A ministra Tereza Cristina cumpriu sua palavra de que não faltaria milho em 2021, e não vai faltar também em 2022. Mas ainda precisamos de alternativas”, disse.
Nesse sentido, Santin observou que estão em curso negociações para manter a desoneração da importação de milho de países fora do Mercosul. A medida, adotada no primeiro semestre, aumentou o poder de barganha das indústrias frente à escalada do milho no mercado interno, que praticamente dobrou de preço em um curto período de tempo. “É o que queremos: um mercado livre para exportação, mas também para importação”.
Mas a disparada do milho, principal insumo da ração animal e responsável por 70% do custo do produtor de frango, por exemplo, deixou uma lição para a indústria. Santin afirmou que diversas companhias intensificaram o planejamento para a compra do insumo, recorrendo a novos fornecedores internacionais e à aquisição antecipada junto aos produtores brasileiros.