Relembrando, agora, que o mês das Festas sempre foi marcado por mesas repletas de quitutes nos quais o ovo tem participação fundamental, ocorre perguntar: mudou o Natal? Não, o que mudou foi a logística de abastecimento surgida com a industrialização do produto. Antes, devido à alta perecibilidade do ovo, acorria-se ao mercado no momento do preparo dos pratos; agora, tem-se à disposição vasto estoque de produto industrial. Elaborado, na maior parte, bem antes das Festas.
Mas, em termos de consumo, esse não foi o grande problema enfrentado pelo setor produtivo em 2021. O maior, com certeza, foi a perda (ou anulação?) da capacidade aquisitiva daquele consumidor que sempre teve no ovo o alimento mais acessível. Menciona-se, a propósito, que no decorrer do ano milhões de famílias sobreviveram nutricionalmente graças à larga distribuição de cestas básicas. O processo se intensificou em dezembro mas – outra questão que ocorre levantar – em quantas das centenas de milhares de cestas distribuídas o ovo esteve presente? Em nenhuma, provavelmente, pois a fragilidade e a perecibilidade do ovo não permitem. E, sem moeda sonante, o consumidor foi obrigado a esquecer desse alimento.
Claro, também pode-se argumentar que aumentou a produção. Mas não é isso que mostram os números divulgados pelo IBGE há menos de um mês. De acordo com o órgão, entre janeiro e setembro de 2021 a produção brasileira de ovos de consumo aumentou menos de meio por cento em relação aos mesmos nove meses de 2020, o que significa que – considerado o crescimento vegetativo da população – o incremento foi negativo. Dado que essa situação não deve ter sofrido maiores alterações no trimestre final do exercício passado, reforça-se a tese da baixa ou nula capacidade aquisitiva de uma significativa parcela dos brasileiros até mesmo para esse que é, ao mesmo tempo, um dos mais nobres e um dos mais baratos alimentos.
Naturalmente, haverá quem contradiga tudo o que foi dito tendo como base o simples argumento de que, em termos anuais, o ovo alcançou um preço médio mais de 25% superior ao registrado em 2020 – índice bem superior à inflação do ano. Para esses casos basta lembrar que os custos evoluíram muito mais, sendo quase 50% superiores aos enfrentados nos 12 meses do ano retrasado. Ou seja: salvo raros e curtos momentos, o setor produtivo – que investiu antecipadamente para garantir o abastecimento de 2021 – operou com total prejuízo.