A Comissão Nacional de Saúde da China relatou o primeiro caso de infecção humana pela cepa H3N8 da gripe aviária nesta terça-feira (26). Segundo a agência de notícias Reuters, a variante atingiu um menino de 4 anos da província de Henan que teve contato com galinhas e corvos criados em casa.
A criança apresentou febre e outros sintomas no último dia 5 de abril. O menino foi infectado diretamente pelos animais, mas a cepa não demonstrou ter “a capacidade de infectar efetivamente humanos”, disse a comissão, conforme a agência France Press (AFP).
O que é a H3N8
Esta variante é comum em cavalos e cães e já foi encontrada anteriormente em focas. Análises da sequência do genoma do agente infeccioso revelaram que ele é um rearranjo com genes virais detectados antes em aves domésticas e selvagens, afirma Nicola Lewis, especialista em gripe do Royal Veterinary College, na Grã-Bretanha, a Reuters.
Testes realizados em pessoas que tiveram contato próximo com o menino infectado não detectaram “nenhuma anormalidade”, o que significa que nenhuma delas teria contraído a cepa. A H3N8 circula desde 2002, tendo emergido pela primeira vez em aves aquáticas norte-americanas. Na costa nordeste dos Estados Unidos, a variante já matou mais de 160 focas após causar uma pneumonia mortal, segundo a AFP.
Devemos nos preocupar?
De acordo com a comissão de saúde chinesa, um estudo inicial mostrou que o risco de uma epidemia em larga escala de H3N8 é baixo. “Muitas vezes vemos um vírus se espalhar para um ser humano e depois não se espalhar mais, então um único caso não é motivo de grande preocupação”, comentou Peter Horby, professor de doenças infecciosas emergentes e saúde global da Universidade de Oxford, ao jornal britânico The Guardian.
Contudo, Horby e outros experts acreditam também que o número recorde de surtos de gripe aviária em aves em todo o Reino Unido, Estados Unidos e Europa em 2022 é um motivo de alerta, pois aumenta as chances dos vírus sofrerem mutações que podem infectar seres humanos.
“Eu geralmente acredito que precisamos aumentar a vigilância da influenza globalmente de forma bastante integrada agora. Além do H3N8, vimos vários outros novos eventos de transmissão da gripe de aves para pessoas nos últimos anos, incluindo o H5N8 na Rússia e H7N9 e H10N3 na China”, disse Alexandra Phelan, professora assistente do centro de ciências e segurança da saúde global na Universidade de Georgetown, nos EUA.
Conforme conta Erik Karlsson, vice-chefe da unidade de virologia do Institut Pasteur, no Camboja, as infecções em humanos — embora raras — podem levar a mutações adaptativas que potencialmente permitem que vírus se espalhem também mais facilmente em outros mamíferos.
Além disso, ele lembra que existem suspeitas de que a H3N8 possa ter causado uma pandemia de gripe em 1889, conhecida como “gripe russa”, que matou pelo menos 1 milhão de pessoas. Porém, tal hipótese se baseia apenas em pesquisas soroepidemiológicas, que fornecem evidências indiretas, conforme mostra estudo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (da sigla em inglês, NIH).
John McCauley, do centro da Organização Mundial da Saúde (OMS) para referência e pesquisa sobre influenza, considera o caso do menino na China “incomum” e disse que a entidade e seus homólogos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estão investigando a ocorrência.