A crise causada pela gripe aviária ganhou novos contornos no início de abril de 2022. Segundo o Ministério da Agricultura francês, novos casos de uma cepa altamente contagiosa do vírus foram confirmados; com isso, já são mais de 1,2 mil casos em plantéis comerciais de aves. A crise é a maior da história da França e provocou o abate de mais de 12 milhões de aves desde novembro de 2021.
Surtos de gripe aviária
O último surto de gripe aviária causado por aves selvagens que migram no outono começou em setembro de 2021 e afetou todos os países da União Europeia, com exceção de Chipre e Malta. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), os surtos terminaram na primavera, em março de 2022. Em decorrência disso, a França precisou abater 4 milhões de aves.
Acredita-se que o vírus da influenza aviária A (H5N1) tenha sido espalhado por aves selvagens que voltavam da migração, em um fenômeno raro. A nova transmissão ganhou força e velocidade nas duas principais áreas produtoras do país, a Bretanha e a região de País do Loire, famosa pela criação de patos para a produção de foie gras. Até o fim de março, o número de abates de aves devido à doença subiu para 12 milhões desde o ano passado.
Crise para os produtores
A França, assim como o restante da Europa, já sofre com o aumento dos preços de insumos agrícolas causado pelo conflito no Leste Europeu. A Ucrânia era o maior exportador de milho para a União Europeia, e o grão é o principal ingrediente da ração das aves.
Tanto a guerra quanto a gripe aviária estão afetando a oferta e o preço dos ovos no mundo. A Ucrânia era a principal fornecedora de ovos da União Europeia (UE), mas com o confronto a produção e o fornecimento estão comprometidos.
Os Estados Unidos, segundo maior fornecedor de ovos da UE, perderam 19 milhões de galinhas poedeiras no último ano, fazendo o valor do produto subir 200% no mercado interno. Segundo a agência de alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU), o preço mundial dos alimentos já subiu 13% desde o início do confronto no Leste Europeu.
Efeitos para o Brasil
O Brasil também sente os efeitos da gripe aviária internacional. O País não registrou surtos da gripe e tem conseguido aumentar as exportações para suprir a carência no mercado internacional. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), carnes de aves e miudezas registraram aumento de 5% nas exportações em março em comparação ao ano anterior.
O principal destino das aves brasileiras em março foram os Emirados Árabes Unidos, que importaram mais do que a China pela primeira vez. Os países árabes são importantes compradores das aves europeias, e o Brasil tem grande potencial de fornecer substitutos, já que vários frigoríficos do País estão habilitados a produzir o frango halal, com abate e corte que seguem as especificações da lei islâmica.
Segundo dados divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 2022 o Brasil deve ser protagonista da venda de carne de frango no mundo. Segundo a instituição, o País deve ser o principal candidato a suprir a demanda desse produto causada pela ausência da proteína ucraniana e pela menor oferta ocasionada pelos surtos de gripe aviária no mundo.