Três granjas de Mato Grosso fecharam as portas nos últimos 12 meses em virtude do aumento dos custos de produção, segundo o executivo da Associação Mato- Grossense de Avicultura (Amav), Lindomar Rodrigues. No Estado, o maior produtor de milho do país, o valor da saca de 60 quilos do cereal dobrou em relação a dois anos atrás.
“Estamos fazendo compras futuras para conseguirmos permanecer no mercado. Uma pequena vantagem que ainda temos é estar no meio da lavoura”, disse Rodrigues ao Valor. Dados do Instituto Mato-Grossense em Economia Agropecuária (Imea) mostram que o preço, que era de R$ 33 no começo de 2020, subiu para quase R$ 70 na semana passada.
O avicultor mato-grossense está preocupado com a guerra na Ucrânia, o La Niña, a forte demanda externa e também com a competição com a indústria de etanol. Na esteira da transformação das matrizes energéticas, o biocombustível é a aposta brasileira para diminuir as emissões de carbono. Agora, além da cana, também cresce o uso de milho na fabricação de álcool.
Etanol não é risco
Mas, para a indústria de proteína animal, o crescimento do etanol de milho não é necessariamente um risco. Ricardo Santin, que preside a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), organização que reúne os grandes nomes do setor, é enfático: o Brasil tem milho suficiente para atender todos os setores e ainda exportar. “Com uma safra de 117 milhões de toneladas, temos condições de ter uma convivência pacífica”, diz.
O vice-presidente de mercados internacionais e planejamento da BRF, Leonardo Dall’Orto, concorda. “De 30% a 35% desse milho vira DDG, que pode ser um insumo importante na ração. Temos que estabelecer parceria para viabilizar o uso desses produtos em rações com baixa ou alta [quantidade de] proteína”, afirma.
Os grãos secos por destilação (DDG) são considerados uma fonte de proteína de alto valor e de aminoácidos essenciais. Porém, segundo fontes ouvidas pelo Valor, ainda é preciso aperfeiçoar o produto brasileiro para que os criadores possam ter uma noção mais clara em termos de resultado nutricional.
Dall’Orto acredita que a pesquisa para uso na alimentação de aves e suínos deve ganhar tração nos próximos anos, até para que as usinas não corram risco de não ter a quem vender o derivado. Santin argumenta que, por enquanto, o DDG não é tão necessário na cadeia de produção de carnes. “Temos milho, não há disputa”, afirma ele.
O que o setor precisa, segundo a ABPA, é que o poder público dê condições para a avicultura competir com outros segmentos. “Precisamos de incentivos tributários, para que não aconteça de o produtor de proteína animal pagar mais caro pelo milho que os importadores, e de previsibilidade em relação à oferta”, diz.