A expectativa de queda na produção de ovos em vários países pode fazer o Brasil aumentar sua participação no mercado internacional. E sem prejudicar a oferta interna do produto, apesar das dificuldades da cadeia produtiva, principalmente com a alta dos custos de produção. A avaliação é da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa o setor.
A queda na oferta de ovos pelo mundo é causada, principalmente, pela epidemia de gripe aviária, que atingiu importantes polos de produção. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, a doença já provocou a morte de milhões de aves selvagens e de planteis de granjas.
Mais recentemente, atingiu países da América do Sul, o que levou o governo brasileiro e a própria indústria a pedirem reforço nas medidas de segurança nas unidades de produção. O Brasil nunca registrou casos de gripe aviária e a avaliação da ABPA é a de que o status sanitário seja um diferencial competitivo e favoreça a produção nacional.
“Toda essa situação faz com que haja uma possibilidade de diminuição da produção de ovos no mundo, de maneira geral. O Brasil não possui essa enfermidade e pode se valer desse status sanitário para incrementar, eventualmente, suas exportações para países de valor agregado”, analisa o diretor de mercados da ABPA, Luís Rua.
Em 2022, o Brasil exportou 9,474 mil toneladas de ovos, aumento de 16,5% em comparação com 2021, segundo dados da Associação, com base nos números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). A receita dos exportadores somou US$ 22,419 milhões, valor 24,2% superior na mesma comparação.
Na avaliação da ABPA, o aumento das exportações foi importante para reduzir os efeitos da alta nos custos de produção. Segundo Luís Rua, milho e farelo de soja – que chegam a responder por 80% do custo total – subiram mais de 150% para o avicultor do Brasil, dificultando o fechamento das contas da atividade.
O principal importador do ovo brasileiro em 2022 foram os Emirados Árabes Unidos, ainda que tenham diminuído em 35,6% o volume importado, para 4,453 mil toneladas. Quem se destacou, no entanto, foi o Catar, país sede da última Copa do Mundo, que importou 1,207 mil toneladas, alta de 127,8% no ano passado.
Outro país que está entre os principais demandantes é o Japão. Mesmo importando um volume 6,6% menor em 2022, foi o terceiro destino do produto, com 1,093 mil toneladas. Na semana passada, no entanto, o país reportou um caso de gripe aviária de alta patogenicidade à Organização Internacional de Saúde Animal (WOAH, na sigla em inglês). Segundo a instituição, o foco da doença levou à eliminação de 12,9 mil aves na granja afetada e em mais de 42 mil em outras duas, consideradas epidemiologicamente ligadas.
Com a gripe aviária avançando pelo mundo e o Brasil livre da doença, a expectativa da ABPA é não apenas a de, pelo menos, manter a presença em mercados de maior valor. Mas também de conquistar novos destinos, afirma Luís Rua, lembrando do México, mercado recentemente aberto.
“Há uma série de destinos em que estamos trabalhando com o governo brasileiro para acessar”, diz o diretor de mercados da ABPA. “Faz parte de um processo, não é de um dia para o outro. Toda essa eventual diminuição da produção mundial pode sim potencializar as exportações do Brasil, mudando, inclusive, o patamar das nossas exportações”, acrescenta.
Mercado interno
Nas projeções da ABPA para este ano, divulgadas ainda em dezembro de 2022, as exportações de ovos devem aumentar até 10%, chegando a 11 mil toneladas. Mesmo em um cenário de redução de até 2% na produção nacional, que pode ficar em pouco mais de 51 bilhões de unidades.
À Globo Rural, Luís Rua ressalta, no entanto, que a perspectiva de aumento nas exportações não fará faltar ovo no mercado interno. A projeção da ABPA para 2023, inclusive, é de consumo per capita até 2,5% inferior ao de 2022, chegando a 235 ovos por habitante.
Rua destaca que o ovo ainda é uma proteína acessível e está presente em 98% dos lares do Brasil. Reconhece, no entanto, que o preço do produto deve chegar mais elevado aos consumidores brasileiros. Segundo ele, o aumento dos custos de produção ainda não foi totalmente repassado aos preços finais, o que ainda deixa espaço para aumentos.
“Não faltará ovo para o consumidor brasileiro. Eventualmente, ele deve ter que pagar um pouquinho mais para continuar havendo sustentabilidade nesse negócio”, diz. “É melhor ter ovo, mesmo com um preço um pouco maior, do que faltar lá na frente por conta de um descarte de galinhas ou alguma outra coisa”, acrescenta o diretor da ABPA.
Em 2022, o preço médio do ovo de galinha ao consumidor aumentou 18,45%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só em dezembro, a alta foi de 0,43% na média nacional.
Para o produtor, o ano de 2023 começou com preços em baixa, segundo os indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Na semana entre os dias 9 e 13 de janeiro, a caixa com 30 dúzias do ovo branco valia R$ 133,42, 10,48% a menos que na anterior. A do ovo vermelho foi cotada, em média, a R$ 147,72, queda de 5,4% na mesma comparação.
Segundo os pesquisadores, pelo menos até a segunda semana do mês, o cenário era de baixa procura, o que pressionou os preços medidos pela instituição, com base no município de Bastos (SP). Já na terceira semana de janeiro, houve uma reação, considerada atípica para esta época do ano.
“A oferta da proteína diminuiu, devido ao descarte das poedeiras mais velhas, enquanto a demanda aqueceu, elevando os preços já no início da terceira semana do mês e sustentando os valores nos dias posteriores”, diz o Cepea, em boletim divulgado ontem, segunda-feira (23/1).