Não se trata de ufanismo. A preparação começou mais de duas décadas atrás, bem no início deste século, quando os primeiros grandes surtos da doença passaram a causar vítimas no sudeste asiático e não apenas entre as aves. Naquela ocasião, um promissor exportador mundial, a Tailândia, foi simplesmente alijada do mercado internacional, a ele só retornando em meados da década passada.
Despertada para o problema, a avicultura brasileira começou a se preparar, inclusive sensibilizando o governo quanto aos riscos existentes. Realizou simpósios, desenvolveu legislação específica, inovou com a proposta de compartimentação (hoje seguida por muitos países), instalou aqui laboratório que é referência em Influenza Aviária para toda a América do Sul.
Porém, desde as primeiras ações visando à prevenção, prevaleceu o entendimento comum de que o risco maior para a atividade estava relacionado não ao “se” (a Influenza entrar aqui) mas ao “quando”. Porque os vírus, todos sabem, não respeitam fronteiras.
Por isso, mais preocupante do que todas as demais ocorrências na América do Sul é a detecção do H5N1 em um cisne de pescoço preto no Uruguai. E não apenas pela proximidade com nosso País, mas sobretudo pelas características da ave – não exatamente migratória, mas típica do Sul do continente, o que inclui, além do Uruguai, também o Chile, Argentina, Brasil e Paraguai.
Na quarta-feira (15), em entrevista à Reuters, o Médico David Suarez, Diretor do Departamento de Doenças Infecciosas da Universidade da Georgia, alertou que o vírus vem afetando aves “residentes”, https://www.avisite.com.br/gripe-aviaria-se-espalha-para-novos-paises-e-ameaca-impor-a-avicultura-guerra-ininterrupta/ ou seja, que não migram a grandes distâncias. E o cisne de pescoço preto é uma ave “residente”. Aparentemente, pois, é apenas questão de tempo.
Como hoje o entendimento do comércio mundial em relação à ocorrência da doença é diferente daquele observado nos grandes surtos anteriores, o registro da doença em aves selvagens ou em áreas específicas de um determinado país não chega a afetar as exportações do país atingido.
Mas é bom estar preparado e manter o melhor relacionamento possível com a clientela. Porque enquanto alguns importadores impõem embargos regionalizados, outros partem para o embargo generalizado, a todos os produtos avícolas do país afetado.
A União Europeia, por exemplo, quase toda afetada pela Influenza, sofre – além dos embargos regionais – o embargo total (relatório do USDA) por parte de quase uma dezena de países. Entre eles, os maiores importadores da carne de frango brasileira: China, Japão, Emirados Árabes Unidos, África do Sul.
Portanto, tanto quanto “olhar para dentro” (extremar as medidas internas de biossegurança) é fundamental “olhar para fora”, dedicando a maior atenção possível aos consumidores externos do produto brasileiro – e não só da carne de frango, mas também dos ovos.