O segundo dia da 40ª Conferência FACTA WPSA-Brasil, que começou ontem (09/05), de forma on-line, abriu as plenárias debatendo a “Situação atual da Influenza Aviária na América Latina”, em apresentação do gerente Técnico Regional da Aviagen América Latina, Mário Sérgio Assayag.
De acordo com Assayag, a Influenza Aviária é atualmente o maior desafio da avicultura comercial, sendo este um momento difícil na América Latina, com uma alta pressão de infecção para IA e um vírus altamente patogênico, que começou na Europa e Estados Unidos.
Mário Sérgio Assayag
“As aves migratórias trouxeram esse vírus para dentro da América Latina, uma situação que nunca havia ocorrido no passado, essas aves migratórias infectaram as aves silvestres em vários países livres da enfermidade, fazendo com que eles se tornassem endêmicos, todo esse histórico faz que não tenhamos condições para determinar um cenário de médio prazo para a América Latina”, salientou.
Atualmente a Influenza Aviária é o maior desafio para a avicultura comercial. Na América Latina ela começou no México com o vírus da H7N3, em 2012, em Los Altos de Jalisco, uma região com alta densidade de aves, sendo mais de 70 milhões. Naquele momento a decisão foi para um plano de vacinação e hoje o país se posiciona como endêmico com vacinação universal.
Agora, a região vive uma nova onda de Influenza Aviária com alto desafio que começou na América do Norte em 2022. Já na América Central e do Sul são mais de 40 países com focos desde outubro/22 até hoje. O vírus que está sendo disseminado atualmente é o 2.3.4.4b HPAI, de distribuição global e perdas extremamente elevadas.
Contabilizando os casos entre primeiro de outubro de 2022 até 10 de maio de 2023, são seis mil casos reportados em todas as regiões do mundo, sendo que a América apresenta um desafio mais elevado. “Quando analisamos os dados da FAO, podemos perceber uma incidência muito grande de casos na América do Norte, na América Central e no Oeste da América do Sul, com bastantes casos na costa do Pacífico Sul”, destacou Assayag.
Logo que detectado na América do Sul o vírus apresentou o mesmo comportamento observado nos EUA, se deslocando rapidamente entre as regiões. Essa dinâmica de distribuição do vírus tem relação aparente com as aves migratórias e destas para as silvestres.
Alguns dos países que se tornaram endêmicos optaram por vacinação, variando entre recombinantes e inativas e de acordo com a estratégia específica de cada país. Na América Latina os países que vacinam são: México, Peru, Equador, Uruguai e Bolívia.
No Brasil, tanto as empresas quanto o governo e o Ministério da Agricultura realizam um trabalho excelente de vigilância. Em 2022 a vigilância ativa do país planejou mais de 2.385 amostras, coletou 2.361, testou 2.108, e realizou mais de 35 mil soros por testes Elisa e 11.200 pool de traqueia e cloacas por PCR.
“Neste momento, na América Latina, precisamos realizar um trabalho em conjunto com as associações, as COESAS regionais, fazendo uma conferência cruzada dos check-lists e ações em cada região para validação e ações corretivas”, orientou Assayag.
Dispersão do vírus
O médico-veterinário e PhD da Panaftosa SPV – OPAS/OMS, Daniel Magalhães Lima, explicou durante sua plenária que o Vírus de Influenza A acomete diferentes hospedeiros, entre aves, suínos e humanos. O Vírus de Influenza A é o mais agressivo dentre os já classificados e são aqueles que apresentam o H e o N, sendo 18 Hemaglutininas e 11 Neuraminidases.
Daniel Magalhães Lima
As Hemaglutininas são as responsáveis pelo vírus se acoplar na célula parasitada e as Neuraminidadeses são aquelas capazes de ligar o material genético do vírus dentro da proteína. Toda essa combinação de Hs e Ns possíveis já foram vistas acontecendo na natureza, porém poucas são prevalentes e contaminam de forma eficiente um número alto de hospedeiros.
“Quando falamos de mutações de Hs e Ns temos a capacidade do vírus de infectar cruzadamente diversos hospedeiros e trocar materiais genéticos entre eles, e com isso ganham alta patogenicidade”, pontuou o médico-veterinário.
Quando esse vírus da Influenza é detectado inicialmente em aves é definido como Influenza Aviária, no qual as aves marinhas são reservatórios importantes e as aves migratórias disseminadoras.
Alguns subtipos de baixa patogenicidade podem ser transmitidos aos humanos e causar infeções, apresentando baixa incidência e sem transmissão sustentada entre humanos.
Em casos em que esse vírus infecta humanos de forma cruzada ele se torna uma doença severa, com letalidade elevada e potencial pandêmico. Atualmente os principais sorotipos de IA para humanos são A (H5N1), A (H7N9) e A (H9N2).
Implicações de um caso de IAAP em aves comerciais
Alta morbidade/mortalidade
Custos com controle
Choque no sistema -> segurança alimentar
Fechamento de mercados
O atual H5N1 começou na China, vem evoluindo da Ásia desde 1996, passando pela Europa, América do Norte, América Central e do Sul.
“A Influenza é uma ameaça constante, tanto para a saúde animal quanto pública, e não temos como erradicar a doença. Sendo nossa responsabilidade fortalecer a vigilância epidemiológica e biossegurança, essas são as duas chaves que temos para conviver e/ou controlar a doença”, finalizou Daniel Magalhães Lima.
A programação da 40ª Conferência FACTA WPSA-Brasil segue hoje, quinta-feira, 11/05, abordando nutrição, legislação, modelos de criação e formação de profissionais.
Saiba mais em: https://conferencia2023.facta.org.br/