O primeiro caso de gripe aviária no Brasil foi registrado no dia 15 de maio, na região litorânea do Espírito Santo. O vírus H5N1, de Alta Patogenicidade, foi confirmado em uma ave silvestre da espécie Thalasseus acuflavidus, mais conhecido como Trinta-réis-de-bando. No Rio Grande do Sul o primeiro caso da doença foi registrado em 29 de maio, também em uma ave silvestre da espécie Cygnus melancoryphus, conhecida como cisne-de-pescoço-preto. O caso foi confirmado na Reserva Ecológica do Taim, no sul. Até o momento outros três estados também registram casos: São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
No Rio Grande do Sul, que está entre os três maiores produtores de frango do país, o monitoramento das aves migratórias foi intensificado por terra, por água e até com uso de drones. A Reserva Ecológica do Taim foi isolada e não recebe equipes para estudos no momento. O local concentra pelo menos 230 espécies de aves. “Todas as aves que encontramos mortas ou doentes nós fazemos a averiguação e os testes. Muitas morrem de causas naturais, pela própria migração, mas mesmo assim temos que manter uma rotina e ter certeza que não há contaminação nelas. Depois dos testes todas são incineradas conforme o protocolo sanitário”, explica a diretora do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul (Seapi/RS).
Cuidados redobrados nas granjas
No estado as regiões com maior número de aves alojadas para produção comercial são o Vale do Taquari e Serra. Conforme a Radiografia da Agropecuária Gaúcha, divulgada pela Secretaria da Agricultura, referente ao ano de 2021, o Rio Grande do Sul produziu 1,63 milhão de toneladas de carne de frango e 3,8 bilhões de ovos, somando mais de R$ 15 bilhões no Valor Bruto da Produção estadual. Ainda é destaque a produção de perus, sendo líder nacional, com média de 59 milhões de quilos anuais.
Nas granjas de produção, medidas de biosseguridade já são adotadas pelo menos há sete anos mas algumas foram intensificadas com a confirmação do caso. São elas:
- Somente pessoas autorizadas têm acesso aos estabelecimentos. Para entrar é necessário fazer o processo de higienização que inclui tomar banho, trocar de roupa e calçado, esterilizar a sola com cal, passar alcool gel nas mãos e só depois ter acesso às aves. O vírus costuma ter forte presença nas fezes e pode ser proliferado através dos calçados por isso cuidado redobrado neste aspecto.
- Funcionários não podem ter contato com outras aves nem ter aves de estimação como papagaios, por exemplo.
- Veículos que visitam as granjas devem passar por barreiras de desinfecção com água e produtos próprios, fornecidos pelas empresas integradoras.
- Telas e vedações foram colocadas junto ao teto dos aviários para evitar a entrada de aves de vida livre;
- As aves poedeiras criadas no sistema cage-free, que têm acesso ao pastejo no pátio, foram confinadas no galpão e telas protegem as laterais, já que pelo sistema elas precisam ter acesso a luz solar.
“Aqui na nossa propriedade sempre seguimos as recomendações técnicas quanto a biosseguridade, controle e fluxo de pessoas até pelos altos custos que temos na atividade e não podemos correr riscos de perder de uma hora para outra”, reforça a avicultura de Davi Canabarro (RS), Márcia Chiarello.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) reforça que o cercamento das propriedades é uma importante ferramenta para manter o país livre de Influenza Aviária e não alterar o status para a exportação. Até o momento os casos confirmados nas aves silvestres estão distantes das granjas comerciais. “Existe na Europa, por exemplo, muita quantidade de focos e existem granjas livres em meio a zonas afetadas. Então isso prova que é possível sim a gente ter uma propriedade blindada. É só seguir à risca o que a gente já sabe. Nada de muito tecnológico, nada muito diferente do que a gente já faz. É seguir à risca o que a gente já aprendeu: isolamento, distanciamento, higiene, cuidado para tudo que entra na nossa propriedade”, explica a diretora técnica da entidade, Sula Alves.