Os setores de avicultura e suinocultura ainda calculam os prejuízos humanos e materiais decorrentes do ciclone que causou cheias e deixou um rastro de destruição em municípios do Vale do Taquari na semana passada. No caso das indústrias de aves, estimativas preliminares da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) apontam um rombo de R$ 220 milhões – o saldo negativo de danos a estruturas de seis indústrias localizadas na região, aviários, máquinas e equipamentos, mortes de animais, estragos em redes de energia elétrica e perda de mercado.
Segundo a Asgav, o Vale do Taquari responde por 21% da produção de aves e derivados no Rio Grande do Sul e ainda são necessárias “diversas avaliações técnicas” de maquinário e estruturas para se chegar a um número preciso de prejuízos. “É um momento crítico para a região e para as indústrias e produtores impactados. O amparo governamental e de outras instituições será extremamente vital para a retomada”, disse o presidente da entidade, José Eduardo dos Santos, em nota.
O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos (Sips), Rogério Kerber, explica que os danos causados pelas enchentes a estradas, pontes, redes de energia elétrica e telefonia dificultam o levantamento de perdas no setor. “Em muitos locais no interior, a energia ainda não foi restabelecida e só há uma maneira de fazer comunicação, que é pelo contato pessoal”, observa Kerber.
Segundo o Sips, as unidades da JBS e da Dália Alimentos no Vale do Taquari foram as mais impactadas. A JBS, que opera com a marca Seara em Bom Retiro do Sul, relatou a perda de 914 suínos em duas instalações. A Dália, que mantém uma planta em Encantado, perdeu em torno de mil toneladas de produtos congelados e resfriados que estavam em câmaras de estocagem aguardando a expedição e não deverá reiniciar os abates nesta semana.
Com indústria em Lajeado, a BRF Alimentos, detentora das marcas Sadia e Perdigão, retomou parcialmente os abates na sexta-feira (8). Porém, segundo Kerber, a maior dificuldade enfrentada pelas empresas para voltar a operar é localizar seus colaboradores, procedentes de diferentes municípios.
“Muitos estão sem casas, sem documentos, sem telefone. No primeiro momento, (a providência) é procurar a pessoa para ver se ela e a família estão bem”, observa o diretor executivo. Kerber acrescenta que há fábricas de ração que não foram atingidas pela enchente, mas estavam sem energia elétrica. “Foram contatados e contratados grupos de geradores para iniciar a produção”, afirma.
Segundo o secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS), Darlan Palharini, embora não tenham registrado danos em instalações, as empresas do setor vêm adotando rotas alternativas para realizar a coleta do leite nas propriedades rurais. É o caso da Lactalis do Brasil, que tem uma unidade de produção em Teutônia (RS), a cerca de 40 quilômetros das áreas mais atingidas. Em nota, o diretor de Comunicação Externa, Assuntos Regulatórios e Corporativos da empresa, Guilherme Portella, afirma que, com essa medida, a indústria manteve a captação do produto na região nos últimos dias. Entre os produtores parceiros da Lactalis, há registros de rebanhos que foram dizimados pela cheia do Rio Taquari.