Além de maior exportador de frangos do mundo e segundo maior produtor, o Brasil também se destaca pela atualização contínua dos processos e equipamentos que garantem o máximo rendimento de sua indústria avícola. “Não foi por magia, mas com muita tecnologia que atingimos a liderança mundial nesse setor”, diz a zootecnista Sula Alves, diretora técnica da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A evolução da avicultura começou nos anos 1940, lembra ela, quando os Estados Unidos investiram no setor para aumentar o fornecimento de proteína para os soldados na Segunda Guerra Mundial. Mas o grande avanço se deu mesmo a partir dos anos 1990, com as pesquisas genéticas. “As experiências no cruzamento de linhagens conseguiram dobrar o peso das aves e encurtar seu desenvolvimento. Hoje um frango atinge o peso médio de 3,35 kg em 42 dias, com uma proporção de 28,7% de peito. Trinta anos atrás, o peso médio era de 1,63 kg, com 15,2% de peito”, compara Alves. E o Brasil, se não foi pioneiro nessa revolução genética, logo soube acompanhar as conquistas científicas.
O salto da genética também foi apoiado pela evolução na qualidade da ração e na ambiência – ou seja, no controle de temperatura e umidade nos galpões – para permitir o rendimento ideal das aves, tanto na criação para abate como na produção de ovos. “A adição de enzimas, por exemplo, aumentou o teor energético da ração, facilitou a digestão das aves e reduziu a quantidade necessária de alimento. Foi um passo decisivo, até porque a ração representa 70% dos custos avícolas”, afirma a diretora da ABPA.
O controle de temperatura nos galpões é importante porque, como demonstraram décadas de pesquisas, aves de até 15 dias, ainda bem pequenas, se desenvolvem mais rápido num ambiente em torno de 32 ºC, enquanto as que estão no final do ciclo, perto dos 40 dias, se sentem melhor numa temperatura mais amena, ao redor dos 21 ºC. A conferência de peso das aves também deixou de ser estressante com o uso de balanças de precisão, nas quais elas são induzidas naturalmente a subir.
Mais recentemente, ferramentas de inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT) também passaram a ser usadas para garantir o ambiente mais propício ao desenvolvimento das aves ou à produção de ovos. “Grande parte das granjas integradas à nossa produção já possui equipamentos de IoT em sua gestão diária. Essa tecnologia permite, por meio de parâmetros de ambiente e de comportamento dos animais, avaliar se temos as condições ideais no dia a dia para que eles consigam expressar sua máxima capacidade genética. Essas informações ficam armazenadas e disponíveis na nuvem”, relata João Campos, presidente da Seara. A companhia, que faz parte do grupo JBS, é a maior exportadora global de frangos, graças a uma ampla rede de fornecedores familiares.
Na gestão da criação em tempo real, as bases de dados da Seara usam IA e “machine learning” (aprendizado de máquina) para acelerar a tomada de decisão. “Assim podemos orientar a integração de maneira proativa, com ações rápidas nos lotes, melhorando o desempenho zootécnico e reduzindo perdas”, afirma Campos, reforçando que investir em novas tecnologias tem um impacto direto na redução de custos no longo prazo e, consequentemente, pode favorecer o aumento da produtividade.
A providência mais usada atualmente na redução de custos tem sido a implantação de painéis para geração de energia solar. No ano passado, por exemplo, 55% das granjas de produtores integrados à marca Seara já contavam com energia solar. A companhia incentiva a implantação de placas fotovoltaicas nas granjas por meio de bonificação aos produtores e intermediação de financiamentos para compra e instalação dos equipamentos, com juros reduzidos.
O sistema de produção com fornecedores integrados é uma característica brasileira que deu certo, ressalta Sula Alves. “Ele permite que as granjas familiares evoluam tecnicamente com o incentivo das grandes produtoras nacionais”, afirma.