A escolhida do presidente Donald Trump para liderar o Departamento de Agricultura dos EUA disse durante sua audiência de confirmação no Senado na quinta-feira (23) que tem “muito a aprender” sobre a gripe aviária ou Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), o vírus que está causando estragos na indústria avícola e nas fazendas de laticínios do país.
O surto afetou mais de 136 milhões de lotes de aves e quase 1.000 rebanhos leiteiros, e infectou 67 humanos, com uma pessoa morrendo até agora.
Especialistas em saúde pública continuam avaliando o risco de infecção para o público em geral como baixo, mas estão monitorando de perto a disseminação da gripe aviária entre trabalhadores de granjas avícolas e de criações de bovinos, bem como entre gatos domésticos e outros mamíferos.
A audiência de quatro horas mostrou que Brooke Rollins provavelmente tem apoio para garantir sua confirmação no Senado, embora membros de ambos os partidos políticos tenham levantado preocupações sobre o declínio das fazendas familiares, o esvaziamento da América rural, a velocidade com que o USDA presta ajuda humanitária aos fazendeiros e o futuro dos programas de nutrição.
Brooke Rollins, Secretária (Ministra) do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA): “Muito a aprender sobre Influenza Aviária”.
Tarifas e comércio
Rollins também recebeu inúmeras indagações de democratas e republicanos sobre o plano de Trump de aumentar tarifas sobre importações, provavelmente levando a tarifas retaliatórias sobre exportações americanas e a repercussões negativas sobre agricultores e os preços de alimentos.
“Quanto à agenda tarifária do presidente, acho que provavelmente não é nenhuma surpresa para ninguém presente nesta sala que ele acredita que é um instrumento muito importante em seu kit de ferramentas para continuar ou trazer a América de volta à vanguarda do mundo e garantir que tenhamos uma economia próspera”, disse Rollins. “Mas assim como ele fez e nós fizemos na primeira administração, ele também entende o potencial impacto devastador para nossos fazendeiros e pecuaristas.”
A senadora democrata de Michigan, Elissa Slotkin, levantou preocupações sobre o que aconteceu durante a primeira administração de Trump depois que ele colocou tarifas sobre nações aliadas, bem como sobre a China. Ela pediu a Rollins para garantir que Trump entenda que isso provavelmente acontecerá novamente, se ele colocar tarifas altas sobre outros países.
“O presidente Trump anunciou tarifas de 25% sobre produtos chineses — baterias, TVs, dispositivos médicos”, disse Slotkin. “A China retaliou e colocou tarifas de 25% sobre soja, frutas, carne suína e alguns outros itens. Então entramos em uma guerra comercial; começamos a adicionar mais itens à lista e eles passaram a fazer o mesmo. E isso continuou e continuou indo e voltando”.
“De repente, por todo o país, nossos fazendeiros passaram a esbravejar porque… ninguém queria comprar nossos produtos, pois havia uma tarifa de 25%. Sentimos isso muito intensamente.”
O governo anterior de Trump então retirou bilhões da Commodity Credit Corporation para ajudar agricultores prejudicados pelas tarifas retaliatórias, disse ela.
“Esse fundo de emergência é o mesmo que nos ajuda com coisas como a gripe aviária, com a qual estamos lidando em todo o país”, disse Slotkin.
O senador republicano do Kentucky, Mitch McConnell, disse esperar que o país não siga o mesmo caminho de antes em relação a tarifas e guerras comerciais.
“Parece-me que para muitos americanos comércio se tornou uma palavra que implica em exportação de empregos”, disse McConnell. “No Kentucky, pensamos em comércio como exportação de produtos e é uma parte extremamente importante do que fazemos.”
O senador democrata do Colorado, Michael Bennet, disse a Rollins ser “simpático a algumas das políticas comerciais que o presidente Trump está tentando defender”.
“Mas a agricultura já está em uma situação difícil… e não queremos que ela fique ainda mais difícil por causa do que venha a acontecer aqui”, disse Bennet.
Ele então perguntou a Rollins se ela acreditava que sua responsabilidade como Secretária de Agricultura seria “ir ao Salão Oval e dizer: ‘Você não pensou nas consequências imprevistas que ocorrerão na agricultura americana se você seguir com essas políticas comerciais?”
Rollins disse que seu papel, se confirmado, é o de “defender, honrar, elevar toda a nossa comunidade agrícola no Salão Oval, ao redor da mesa, por meio do processo interinstitucional. E garantir que cada decisão que for tomada nos próximos quatro anos tenha isso presente à medida que essas decisões sejam tomadas.”
Gripe aviária
Rollins mostrou estar menos segura ao ser inquerida pelos senadores sobre como irá lidar com o atual surto de gripe aviária, ou H5N1.
Os avicultores e o USDA vêm lidando há anos com o vírus na avicultura, mas ele só começou a infectar rebanhos leiteiros há cerca de um ano.
O alastramento para outro setor da agricultura americana e o aumento no número de agricultores infectados pelo vírus levaram a uma resposta de várias agências do governo federal, aqui inclusas a Administração para Preparação e Resposta Estratégica (ASPR), os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs), a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) e o próprio USDA.
“Há muito a aprender sobre isso. E se confirmado, isso será, como mencionei na minha declaração de abertura, uma das maiores prioridades”, disse Rollins, referindo-se a seus comentários anteriores sobre obter “o controle do estado nos surtos de doenças animais”.
A senadora democrata de Minnesota, Amy Klobuchar, que havia perguntado a Rollins “qual era seu plano para conter a disseminação da gripe aviária”, então a questionou sobre uma nova exigência oficial, a que impede algumas autoridades de saúde pública de fazerem comunicações externas.
“Quero ressaltar que ontem (23) a administração anunciou que interromperá as comunicações externas de saúde pública do CDC sobre casos de gripe aviária e de outras doenças animais”, disse Klobuchar.
“Esses anúncios são importantes para ajudar a manter os produtores atualizados com as últimas informações sobre a disseminação de doenças e a saúde dos trabalhadores. E embora eu saiba que isso não depende do USDA, peço que conversem com eles sobre isso. Estamos preocupados.”
Efeito das deportações em massa na agricultura
Rollins foi pressionada durante a audiência sobre como deportações radicais podem impactar a indústria agrícola e o fornecimento de alimentos em todo o país. Os senadores também perguntaram como ela planeja evitar que o sistema de transporte de alimentos das fazendas para as mesas das pessoas entre em colapso se deportações em massa fossem realizadas.
“O presidente Trump concorreu e foi eleito esmagadoramente tendo como prioridade a segurança de fronteira e a deportação em massa”, disse Rollins. “Ele e sua equipe estão, presumo, atualmente colocando em prática os planos para começar esse processo. Claro, primeiro com aqueles que cometeram crimes por aqui.”
Rollins disse que planeja trabalhar com a indicada à Secretária do Trabalho, Lori Chavez-DeRemer, se ela for confirmada, em questões relacionadas à força de trabalho agrícola.
Rollins declarou que pretende fazer mudanças no visto para trabalhadores agrícolas temporários , mas não detalhou as implicações dessas mudanças.
O senador democrata da Califórnia, Adam Schiff, perguntou a Rollins se uma possível queda repentina de trabalhadores agrícolas devido a deportações em massa poderia levar a preços mais altos de alimentos “em nítido contraste com o que o presidente disse que queria fazer”.
Rollins respondeu que, embora isso seja apenas uma hipótese, é algo em que “precisamos pensar bem”.
“Eu acho que é um ponto muito importante”, disse Rollins. “O presidente fez da inflação de alimentos e do custo dos alimentos uma de suas principais prioridades. Eu trabalhei ao lado dele. Sou parte de sua equipe há muitos anos. Acredito em sua visão e seu comprometimento com a América e com suas promessas. E ao fazer isso, acredito que seremos capazes de encontrar em nosso kit de ferramentas o que precisamos fazer para resolver quaisquer problemas hipotéticos que acabem se tornando reais no futuro, nos próximos meses e anos.”
A nova Secretária (Ministra) da Agricultura dos EUA foi diretorA do Conselho de Política Doméstica durante o primeiro governo Trump antes de se tornar presidente e diretorA executivo da ONG America First Policy Institute.
Trump anunciou a escolha de Rollins para a Secretaria de Agricultura (USDA) em novembro, observando que ela “tem vivência, junto com profundas credenciais políticas de liderança, tanto em entidades governamental como nas sem-fins lucrativos, em níveis estadual e nacional”.