Durante o evento Conexões Transnordestina, promovido pelo Movimento Econômico em Belo Jardim, nesta quinta-feira (25), o presidente do Instituto Ovo Brasil e vice-presidente da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe), Edival Veras, fez um diagnóstico contundente sobre os desafios enfrentados pela avicultura pernambucana. Segundo ele, o setor enfrenta uma” “crise de competitividade estrutural“, em razão dos altos custos logísticos, da dependência do transporte rodoviário e da ausência de infraestrutura adequada para escoamento da produção.
“Ser avicultor em um lugar com pouca água e pouca estrutura é uma profissão de esperança. A gente tem esperança de um dia ser mais competitivo e ser mais eficiente “, resumiu Veras. Pernambuco é o quarto maior produtor de ovos do Brasil, com uma produção de 14 milhões de ovos por dia, e a avicultura é responsável por cerca de 150 mil empregos diretos no estado.
Custo logístico como freio da produção
A principal crítica do dirigente é à ineficiência logística, especialmente no que diz respeito ao transporte de insumos como milho e soja — que representam 75% do custo de produção da avicultura. “Hoje pagamos R$ 25 por um saco de milho só em frete. Isso torna o nosso produto 30% mais caro do que em São Paulo. É inviável competir assim”, afirmou.
O custo logístico elevado da avicultura, segundo Veras, se deve principalmente à dependência do modal rodoviário e à distância dos centros produtores de grãos. Ele lembrou que, há 25 anos, o milho vinha de 3.000 km de distância. Hoje, com o avanço da produção em estados como Sergipe, essa distância foi reduzida para cerca de 1.000 a 1.500 km. Ainda assim, o impacto é grande.
“Quando Sergipe começa a produzir milho em novembro, a gente respira. Mas passamos seis meses do ano rezando para continuar produzindo”, desabafou.
Ferrovia parada, demanda pronta
Edival Veras reforçou que é urgente a retomada da Ferrovia Transnordestina para dar fôlego ao crescimento da avicultura, especialmente no trecho até o Porto de Suape, e lamentou que o projeto avance sem considerar a demanda já existente.
“A gente já produz. Só na avicultura, temos demanda para movimentar 48 mil contêineres de matéria prima por ano, como milho, sorgo, soja, trigo e calcário. Falta a ferrovia chegar. Não podemos construir o caminho depois da produção”, criticou.
O dirigente contou que participou de articulações em Brasília, inclusive no governo Michel Temer, para incluir a Transnordestina entre as obras prioritárias do país. Apesar disso, o cansaço político se impõe. “A gente vai cansando. São 20 anos vendo o Brasil crescer na exportação de frango e Pernambuco parado. A gente não exporta quase nada porque não tem custo para competir”, disse.
Desigualdade regional na avicultura
O vice-presidente da Avipe citou dados que escancaram a desigualdade regional na competitividade do agronegócio brasileiro. Enquanto o Brasil exporta frango para 155 países e é responsável por um a cada quatro frangos consumidos no mundo, Pernambuco ficou estagnado: “A gente não exporta para quase ninguém. Nem o Nordeste, nem Pernambuco. Porque a gente não tem custo competitivo”, disse.
Edival Veras reforçou que Pernambuco produz hoje a mesma quantidade que há 20 anos. “Se tivéssemos acompanhado o ritmo da avicultura nacional, teríamos muito mais empregos e desenvolvimento”, lamentou, alertando para o impacto social da estagnação econômica:
“O tamanho do orgulho que tenho de ser pernambucano é o tamanho da vergonha que sinto ao ver mais bolsas família do que empregos no nosso estado”, afirmou emocionado. “Bolsa é necessária, mas precisa ter porta de saída. E essa saída é o trabalho, é a renda, é a competitividade”, completou.
Integração regional e oportunidade para o Nordeste
Veras defendeu uma visão regionalizada do problema. Segundo ele, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte formam, na prática, um mercado comum, e a Transnordestina poderia atender aos quatro estados simultaneamente, com grande impacto positivo na geração de empregos.
Ele também destacou a necessidade de olhar para mercados externos, como a África, e de ampliar as exportações nordestinas. Mas, para isso, é preciso atacar a raiz do problema: o custo logístico.
A urgência da ação
Encerrando sua fala, Edival Veras fez um apelo para que a obra da Transnordestina seja priorizada com ações concretas, e não apenas discursos políticos. “Esse projeto precisa sair do papel. Já temos produção, já temos demanda. Falta compromisso para dar o passo final”, concluiu.