O tema central do encontro foi a comunicação do agro e Rodrigues iniciou a conversa com uma boa notícia e um desafio. “Nunca se falou tanto de segurança alimentar e sustentabilidade e o Agro é o motor dessa transformação. O desafio é que é preciso calibrar a mensagem, deixar de tratar de Agro e falar de comida, conectando o rural e o urbano. O alimento junta os dois públicos”, assinalou o ex-ministro, destacando que esse tema precisa assumir uma dimensão muito maior, se equiparando aos grandes pilares de discussão global.
“É uma questão de narrativa”, resumiu Roberto Rodrigues, destacando uma frase que o define e que ele usa sempre quando o tema é comida: “Não há paz onde há fome”.
Mas onde estamos errando? Não erramos, disse Rodrigues, “mas as prioridades são dinâmicas e é preciso ajustar o discurso sempre que necessário. Agora – mais do que nunca – é preciso mudar a forma de nos comunicar. Ela tem de ser mais inclusiva e voltada para os diferentes nichos”.
Nesse cenário, a mensagem precisa fazer sentido, inclusive para os interlocutores. É aí que, explicou o coordenador da GVAgro, entra em cena a geopolítica. “Historicamente, dizemos que o Brasil é o celeiro do mundo. O mundo sabe disso, mas será que nos valoriza tanto por isso. Grandes clientes dos alimentos brasileiros, os chineses têm visão estratégica. Hoje, nossos produtos são essenciais para eles, mas, e no futuro? Será que nos valorizarão da mesma forma somente porque somos grandes fornecedores? Claro, podemos produzir mais e mais, porém, costumo dizer que desastre não é a falta de alimentos, mas a abundância, pois se não tiver para quem vender terão de ser descartados. É aí que a mensagem de segurança alimentar e produção sustentável tem de se encaixar”.
Convidado do ‘ABMRA Ideia Café’ com o ex-ministro Roberto Rodrigues, Caio Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), trouxe para a discussão o exemplo da União Europeia. Lá, os produtores estão pleiteando o uso de reservas de terras em descanso para a produção agrícola – objetivando se prevenir contra a escassez de alimentos devido à guerra. A notícia está sendo saudada pelo mundo, porém representa a virada de costas da UE para a produção sustentável. Mas, e nós que divulgamos sempre que preservamos o meio ambiente? Por que o mundo não compra nossa mensagem e aceita o que a União Europeia vai fazer? É a guerra da comunicação, e a estamos perdendo”, assinalou o presidente da ABAG.
Ricardo Nicodemos, presidente da ABMRA, informou que a entidade, a ABAG e a ABIA (Associação Brasileira da Indústria da Alimentação) conversam sobre a importância de coordenar a comunicação em todos os elos da cadeia da produção de alimentos – da fazenda à indústria. “Saímos de importadores para exportadores de alimentos, porém parece que a comunicação não acompanhou essa dinâmica. Se não contarmos nossa história alguém a contará da maneira que quiser”, ressaltou.
Julio Cargnino, vice-presidente da ABMRA e coordenador do ‘ABMRA Ideia Café’, considerou a conversa com Roberto Rodrigues muito produtiva, “tendo em vista que ele é um dos maiores pensadores do Agronegócio brasileiro. A importância da comunicação nunca foi tão relevante para manter o Agro competitivo, respeitado e pujante”, concordou Cargnino, lembrando que o tema é o pilar central de Roberto Rodrigues na presidência da Academia Brasileira de Ciências Agronômicas.
O ‘ABMRA Ideia Café’ foi criado como um espaço exclusivo para conversas produtivas sobre comunicação e marketing entre convidados especiais do calibre de Roberto Rodrigues e os Associados da ABMRA, além de personalidades do Agro. A primeira edição contou com a presença do Caio Carvalho, presidente da ABAG, e dos jornalistas Mauro Zafalon (Folha de S. Paulo), Vera Ondei (Forbes), Giovani Ferreira (Canal Rural) e Cassiano Ribeiro (Globo Rural).