Os fazendeiros dos EUA estão aumentando a pressão sobre o governo Biden para que autorize a vacinação de galinhas, perus e vacas para protegê-los de infecções de gripe aviária que devastam rebanhos há três anos.
Neste outono, os rebanhos da indústria avícola dos EUA, que movimenta US$ 67 bilhões, enfrentam pela primeira vez um risco duplo de infecções – através do rebanho leiteiro ou por aves migratórias, que podem disseminar ainda mais a doença.
A gripe aviária, que é letal para aves e reduz a produção de leite em vacas leiteiras, eliminou mais de 100 milhões de galinhas e perus desde 2022, no maior surto dos EUA.
A Rose Acre Farms, a segunda maior produtora de ovos dos EUA, quer que o Departamento de Agricultura dos EUA permita vacinações, disse o CEO Marcus Rust à Reuters. A empresa perdeu milhões de galinhas em surtos e está transferindo para nova local uma instalação de reprodutoras, porque a atual fica ao lado de um refúgio de vida selvagem que atrai patos migratórios. “Somos criadores. Queremos nossos animais vivos”, disse Rust.
A disseminação do vírus para bovinos leiteiros em 14 estados e as infecções de 13 trabalhadores de fazendas de laticínios e aves neste ano preocupam cientistas e autoridades federais quanto aos riscos de uma maior disseminação para os humanos.
Em uma carta de agosto, os principais grupos produtores de ovos, perus e laticínios do país argumentaram ao Secretário de Agricultura, Tom Vilsack, que o custo econômico do surto justifica a implantação de uma vacina. E os legisladores federais dizem que o USDA deve acelerar sua pesquisa de vacinas e desenvolver novos métodos para ajudar os fazendeiros a evitarem surtos.
“É óbvio que o surto atual não tem um final à vista”, disseram uma dúzia de membros do Congresso, liderados pelos deputados Randy Feenstra, republicano, e Jim Costa, democrata, em outra carta de agosto a Vilsack.
Um porta-voz do USDA disse que a agência tem colaborado com agências estaduais e federais e pesquisadores para proteger o gado, fazendeiros e trabalhadores rurais e está pesquisando vacinas para animais.
No entanto, Vilsack informou, em uma carta de março não citada anteriormente e direcionada aos membros do Congresso que “uma campanha de vacinação enfrentaria desafios, incluindo potenciais barreiras às exportações”. Muitos países proíbem importações de aves vacinadas devido a preocupações de que a vacina possa mascarar a presença do vírus.
“A vacinação generalizada de aves comerciais não é possível no curto prazo”, escreveu Vilsack na carta, que o grupo de bem-estar animal Farm Forward obteve por meio de uma solicitação de registros públicos e compartilhou com a Reuters.
“Há motivos para termos esperança”
Um número crescente de países vem avaliando a possibilidade de vacinar suas aves, o que, outrora, sempre foi um tabu. No ano passado, a França começou a vacinar patos contra a gripe aviária. A Nova Zelândia, que nunca teve um caso de gripe aviária, está testando uma vacina em cinco espécies de aves selvagens.
No ano passado, os EUA aprovaram o uso emergencial da vacina contra a gripe aviária para proteger os condores da Califórnia.
“O único uso de uma vacina nos EUA é neste caso em particular devido ao grau de ameaça àquele pássaro selvagem”, disse Julianna Lenoch, especialista em doenças da vida selvagem do USDA. Os EUA vacinaram 94 condores e viram as mortes por gripe aviária pararem, ela afirmou em um webinar na quinta-feira.
A gripe aviária eliminou 17 milhões de galinhas poedeiras de abril a julho, de acordo com dados do USDA. Em agosto, os preços dos ovos no varejo ultrapassaram US$ 3,20 por dúzia e atingiram uma alta de 16 meses, mostram dados federais.
A indústria de ovos precisará aumentar a oferta para reduzir os preços e o período migratório cria incerteza, disse Brian Moscogiuri, vice-presidente da Eggs Unlimited.
A temporada de migração de aves selvagens está em andamento e vai durar até dezembro, com aves aquáticas voando para o sul de estados do norte como Minnesota, disseram especialistas. Os patos-marrecos-de-asa-azul podem viajar até a América do Sul, disse Andy Ramey, cientista pesquisador do US Geological Survey.
O Brasil, maior exportador de frango do mundo, pode ter mais casos em aves selvagens devido às migrações, observou a associação avícola local.
Aves migratórias podem carregar o vírus sem morrer e transmiti-lo para a avicultura comercial. No entanto, parece que menos aves selvagens estão sendo infectadas, provavelmente porque estão desenvolvendo imunidade, disse Ramey.
“Há motivos para ter esperança”, disse ele.