Países membros da UE registraram 394 novos casos da doença em 2024 e 233 em 2025. Acordo com o Mercosul precisará ser aprovado em outras duas etapas na União Europeia.
O surgimento no Brasil do primeiro foco em um estabelecimento comercial do H5N1, o vírus da gripe aviária, não atrapalha as negociações do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE), na avaliação de autoridades brasileiras que participam dessas negociações. O principal argumento é que países membros da UE registraram 394 novos casos da doença em 2024 e 233 em 2025, na comparação com apenas esse único caso confirmado no Brasil.
O protocolo sanitário com os japoneses foi atualizado recentemente para tentar diminuir os impactos de casos sanitários como este.
“A União Europeia tem o mesmo problema, mas muito mais grave historicamente do que o Brasil”, diz uma fonte.
Na sexta-feira (16/5), o Ministério da Agricultura e Pecuária anunciou que detectou pela primeira vez desde 2006, quando o vírus foi descoberto na China, a presença do H5N1 em granja comercial no país. O caso, que ocorreu no município de Montenegro (RS), levou à suspensão temporária dos embarques de frango para países da União Europeia, China, Argentina, Uruguai, México, Chile e Coreia do Sul.
Ontem, domingo (18/5), autoridades brasileiras anunciaram que investigam mais dois casos: um em Aguiarnópolis (TO) e outro em Ipumirim (SC).
Ainda na sexta-feira, logo após o anúncio realizado pelo ministério, a Missão do Brasil junto à União Europeia divulgou comunicado em inglês destacando justamente que aquele era o “primeiro episódio de Influenza Aviária Altamente Patogênica detectada em um estabelecimento comercial do Brasil”.
“A circulação do vírus da Influenza Aviária Altamente Patogênica começou em 2006, principalmente na Ásia, na África e no Norte da Europa. Somente na Europa, houve o anúncio de 394 novos casos em países membros da União Europeia em 2024 e outros 233 em 2025”, diz.
O comunicado também destacava que após a descoberta, ainda na quinta-feira (15/5), autoridade veterinárias brasileiras tomaram “todas as medidas necessárias de contenção e erradicação, incluindo a declaração de estado de emergência sanitária por 60 dias, cobrindo um raio de 10 quilômetros ao redor do estabelecimento comercial [onde o caso foi detectado]”.
“As autoridades sanitárias brasileiras estão monitorando de perto a situação por meio de contínuas investigações epidemiológicas e atividades de vigilância animal”, afirmava o comunicado. “O Brasil também está notificando a Organização Mundial de Saúde Animal, assim como todos os seus parceiros comerciais, inclusive a União Europeia. Para manter a transparência total, o governo brasileiro irá informar regularmente e imediatamente o público e as autoridades transparentes sobre novos desdobramentos”.
Em negociação desde 1999, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia foi anunciado pelos chefes de Estado do bloco sul-americano e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no fim de 2024. Se confirmadas, as novas regras criarão uma área de livre comércio para 700 milhões de pessoas, com Produto Interno Bruto (PIB) combinado de US$ 22 trilhões.
Para que entre em vigor, no entanto, o acordo precisará ser aprovado em outras duas etapas na União Europeia: por 65% do Conselho Europeu, órgão que reúne os chefes de Estado, sendo que esses 65% precisam representar 55% da população do bloco; por maioria simples no Parlamento Europeu, o órgão legislativo do bloco, levando em conta apenas os deputados que comparecerem à sessão. Como publicou o Valor em maio, autoridades brasileiras esperam para o verão europeu uma grande campanha de opositores do acordo contra as mudanças.