Conab corta previsão para produção de inverno do cereal, mas colheita total de grãos ainda será recorde
Reflexos negativos provocados pelo atraso do plantio e da colheita de soja sobre a safrinha de milho, semeada fora da janela climática ideal em diversas regiões, levaram a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a reduzir sua estimativa para a produção total de grãos no Brasil nesta temporada 2020/21.
Em levantamento divulgado ontem, a estatal passou a estimar o volume em 271,7 milhões de toneladas, 2,1 milhões menos que o previsto em abril, mas ainda um novo recorde histórico, 5,7% superior ao alcançado no ciclo 2019/20. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também publicou ontem novas projeções de colheita, serão 264,5 milhões de toneladas, 0,2% menos que o previsto em abril e 4,1% acima do volume colhido no ano passado.
A área plantada total está calculada pela Conab em 68,6 milhões de hectares, um aumento de 4,1% ante o ciclo passado, e a produtividade média das lavouras brasileiras foi reduzida pela estatal para 3.959 quilos por hectare, abaixo da projeção de abril (3.997) mas com avanço de 1,6% na comparação com 2019/20.
Para a safrinha de milho, que provocou os ajustes para baixo, a Conab passou a estimar colheita de 79,8 milhões de toneladas, 3,4% menos que o previsto em abril mas 6,3% acima da temporada passada e ainda um novo recorde. Com isso, a colheita total do cereal, que será a maior da história, passou a ser calculada em 106,4 milhões de toneladas, volume 3,7% maior que o de 2019/20.
Segundo a Conab, agricultores do Paraná e de Mato Grosso do Sul já começaram a acionar o seguro rural por causa de perdas nas lavouras na safrinha. O movimento poderá se intensificar, a depender do clima, o que pressionaria ainda mais os preços, que já estão elevados no exterior e no país, com reflexos negativos sobre as margens da indústria de aves e suínos e sobre os índices inflacionários.
“Praticamente não choveu no Paraná, em Mato Grosso do Sul e em São Paulo em abril, e isso tem afetado a disponibilidade hídrica — disse o gerente de Acompanhamento de Safras da Conab, Maurício Lopes.
A estimativa de produção de milho só não é menor devido ao aumento de 9% na área plantada. “A produtividade estimada já é menor que a da safra anterior, quando também não foi tão boa”, afirmou ele.
Segundo o diretor de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Silvio Farnese, a queda da produção de milho safrinha já era esperada, daí a importância da liberação das importações do cereal de países de fora do Mercosul sem imposto.
No caso da soja, carro-chefe da agricultura nacional, a Conab cortou em 0,2% a estimativa de produtividade devido ao tempo seco, para 3.517 quilos por tonelada. Dessa forma, a produção da oleaginosa foi estimada ontem em 135,41 milhões de toneladas, 0,1% abaixo da previsão de abril, mas 8,5% mais que no ciclo anterior – e também um recorde.
Para as lavouras de arroz, a estatal elevou em 4,7% sua projeção de colheita, para 11,6 milhões de toneladas, 3,9% mais que em 2019/20. E, para o feijão, a estimativa foi cortada em 5,6%, para 3,11 milhões de toneladas no total (a leguminosa tem três safras anuais), redução de 3,6% na comparação entre as temporadas. A segunda safra de feijão também tem sofrido muito com a seca.
No caso do algodão em pluma, por fim, a Conab reduziu sua estimativa de produção em 2,1%, para 2,44 milhões de toneladas, 18,6% menos que no ciclo 2019/20. Nesse caso, pesou o mercado pouco atraente no momento em que os produtores definiram suas estratégias de plantio para esta temporada 2020/21.