Um cenário de preocupação com a inflação tem levado os consumidores a antecipar as compras nos supermercados para os primeiros dias do mês. O movimento foi constatado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
“Os pagamentos ocorrem até o quinto dia útil. Temos visto movimento muito maior nos primeiros dias do mês. O consumidor está aproveitando o dinheiro que acabou de receber e os preços e ofertas do início do mês. Até porque ele não tem certeza se vai comprar depois no mesmo preço”, disse o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, em conversa com jornalistas ontem.
O movimento é um reflexo da memória inflacionária do brasileiro. Nas épocas de inflação descontrolada, Milan disse que até 50% das vendas dos supermercados costumavam acontecer nos primeiros 10 dias do mês.
“Outra coisa que estamos vendo é que o consumidor está indo menos vezes ao mercado”, disse. Milan, entretanto, explicou que não é possível cravar que essa menor ida ao mercado represente uma redução no consumo. “Hoje ele [cliente] tem outras alternativas que não tinha no passado, como aplicativos. Estamos medindo esse efeito”, disse.
O consumo nos lares brasileiros apresentou alta de 1,23% em janeiro na comparação com igual mês de 2021, segundo a Abras. A estimativa é que o consumo das famílias suba 2,8% nesse ano. Questionado, Milan disse não esperar uma alteração nesta previsão por agora diante dos conflitos na Ucrânia.
“A gente acredita em uma negociação [na Ucrânia]. E a gente acredita que esse caminho da paz vai chegar. Além disso, acreditamos em outros caminhos, como esforços internos que o país [Brasil] precisa fazer”, disse, apontando a redução dos impostos sobre a cesta básica – cujas conversas já se iniciaram com o governo.
Enquanto essa resolução não chega, o movimento de troca de produtos premium por marcas mais baratas continua ganhando força. No óleo de soja, por exemplo, cerca de 59,4% do faturamento entre janeiro e fevereiro deste ano era de produto de baixo valor. Em igual período de 2021, o percentual era de 54,9%.
Já outro movimento que ganhou força é a troca de carne bovina por ovo, frango e carne suína. Citando dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Milan disse que o consumo de carne bovina entre os brasileiros caiu significativamente desde o início da pandemia e chegou a 26,5 quilos por habitante em 2021, menor volume em 25 anos. Em relação a 2006, quando houve um pico de 42,8 quilos por habitante, o recuo é de quase 40%. Na contramão, cada vez mais ganha espaço o consumo de ovos. Em 2021, foram 255 ovos por habitante. Em 2010, eram 148, número que passou a crescer ano a ano desde então.
A Abrasmercado, cesta composta por 35 produtos de largo consumo nos supermercados, apresentou alta de preço de 11,50% em janeiro, na comparação com janeiro de 2021. Na comparação com dezembro, a cesta subiu 1,30%. A cesta fechou o primeiro mês de 2022 em R$ 709,63.
Entre os produtos com as maiores altas no mês, ante dezembro, estão a cebola (12,43%), a batata (9,65%) e o tomate (6,21%). As maiores quedas de preço foram do queijo prato (5,96%) e do arroz (2,66%).