Ontem, a quinta-feira (27) foi mais um dia de forte volatilidade para o mercado de grãos na Bolsa de Chicago mas, liderados pelo milho, os futuros também da soja e do trigo teminaram o dia com ganhos de mais de 6%, 2% e 4% entre os contratos mais negociados. Como explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, os boatos de que a China estaria cancelando compras de milho nos EUA foram dissolvidos pelo mercado, principalmente com a chegada do novo boletim semanal de vendas para exportação do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
“O relatório não trouxe nenhuma surpresa, nem positiva e nem negativa. Mas como o mercado já tinha caído 40 pontos, voltou para esse nível. O mercado caiu no boato e subiu no fato. E apesar do número hoje para a safra nova de milho (dos EUA) ter vindo grande, já era bem esperado e o mercado vai voltar a olhar a questão da oferta”, diz.
Vanin explica, porém, que é preciso ter atenção à influência já informada do governo chinês sobre o mercado de commodities, que tem como alvo três principais produtos: minério de ferro, cobre e milho. O cereal, afinal, já acumula uma alta de 60% desde janeiro no mercado local.
De outro lado, a demanda chinesa por soja está menos pujante neste momento e muito disso se dá em função do baixo sentimento de confiança da suinocultura na nação asiática. Embora a demanda interna pela carne de porco siga forte e aquecida, a oferta neste momento é maior – dado o aumento da retenção das matrizes – e também as reservas de carne congelada do governo, as quais mais que dobraram no acumulado de 12 meses.
Tudo isso segue pressionando as margens dos suinocultores, ao lado de algumas fábricas de ração já utilizando menos farelo de soja na composição de seus produtos.
E paralelamente, a China continua focada na oleaginosa brasileira agora diante dos preços mais atrativos – principalmente com os prêmios que estão ainda negativos, o que pesa bastante diante de um frete marítimo que só faz crescer.
“A China não está com a mesma demanda e o Brasil tem mais soja neste momento, ao contrário do que aconteceu no ano passado. E os EUA terão concorrência do Brasil, nossa soja está muito barata e dificilmente eles conseguirão competir com a gente em um embarque agosto, setembro. E se bobear, até o começo de outubro”, diz o analista.
E essa maior competitividade do Brasil continua sendo fator de pressão para as cotações da soja em Chicago.
O clima favorável nos Estados Unidos também segue no centro das atenções do mercado nacional, as condições seguem favorecendo os trabalhos de campo e o desenvolvimento das lavouras.
“O clima agora está bom, mas ainda temos muito por vir em relação ao clima. Uma vez sendo definida a safra americana, seja do tamanho que for, aí voltamos a olhar para a demanda”, afirma o analista. “E se não mudar como está hoje, o Brasil mais barato e a China comprando da mão pra boca, não tem suporte para Chicago continuar subindo”.