“Não dá para oferecer milho caro para galinha velha”. O ditado, popular na área avícola, ilustra bem o momento desse mercado. Indústrias estão reduzindo o abate para conter os prejuízos com o aumento dos preços do milho e do farelo de soja.
Um executivo de uma das maiores indústrias do segmento no país estima que o alojamento de aves deverá recuar 10 % no curto prazo. Como resultado, a produção de carne de frango deverá crescer no máximo 1% em 2021. Em 2020, o país produziu 13,7 milhões de toneladas.
“É uma consequência inexorável do custo de produção”, disse o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. Segundo ele, as empresas estão adotando estratégias como descarte de matrizes, redução de alojamento, economia de ração e de peso final do frango para abate. Representantes do segmento ouviram na quarta-feira da Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que milho não vai faltar, mas que o cereal permanecerá caro ao longo deste ano.
O Rio Grande Sul está entre os Estados que mais sofrem com esse cenário, em meio ao recrudescimento da pandemia e depois da quebra da produção de milho no ano passado. Mas a situação não é muito diferente em outros Estados, afirma Santin.
As indústrias gaúchas planejam reduzir o abate de aves e a produção de ovos entre 15% e 30%. “É uma adequação à realidade. Inicialmente, as indústrias haviam sinalizado uma queda em torno de 10%, mas a redução se intensificou”, disse José Eduardo dos Santos, presidente da Organização Avícola do Estado do Rio Grande do Sul (Asgav/Sipargs). Os abates no Estado somaram 831 milhões de aves em 2020 (69 milhões por mês), 1,5% a mais que em 2019. A redução deve começar a aparecer nos próximos dois meses.
A gaúcha Languiru, de Teutônia, afirmou recentemente que pretende reduzir em 30% a produção. Em entrevista ao Valor em fevereiro, o presidente da catarinense Aurora, Neivor Canton, reconheceu que a situação é complicada e que a central de cooperativas também cogitava um corte de produção. “O frango já está no vermelho”, disse.
Santos, da Asgav, calcula que o prejuízo para a produção de carne de frango seja de R$ 1,20 a R$ 1,50 por quilo no Rio Grande do Sul. Para os ovos, a margem está quase nula.
Conforme Santin, as indústrias terão que repassar o aumento ao consumidor. Até agora, disse, foi possível segurar repasses porque muitas indústrias estavam produzindo com milho mais barato que o valor atual.