Confrontando-se o desempenho do ovo em fevereiro passado com os resultados registrados em janeiro, a primeira impressão é a de que a análise envolve dois produtos totalmente diferentes.
Em janeiro, abrindo 2022, o preço alcançado pelo ovo retrocedeu ao menor patamar em 12 meses, ficando acima, apenas, do preço de um ano antes, janeiro de 2021. Mas mesmo isto em termos apenas nominais, pois a variação anual registrada, de 6%, ficou bem abaixo da inflação oficial. Ou seja: deflacionado pelo IPCA, o preço do ovo recuou a um dos menores níveis dos últimos dois anos.
Já em fevereiro… surpresa! O ovo atinge a maior cotação nominal de todos os tempos, com aumento de mais de 40% sobre o mês anterior e de cerca de 13,5% sobre fevereiro de 2021. Isto, antes da chegada do período de Quaresma, que começa nesta quarta-feira, 2 de março.
A reversão começou no final de janeiro e se estendeu por boa parte de fevereiro, graças à limpeza de plantel (aves com baixa produtividade) efetuada pelo setor produtor. Estendendo-se pelos dois primeiros decêndios do mês, os reajustes do produto só amainaram a partir da quarta semana de fevereiro. Mas não porque houvesse excedentes do produto e, sim, porque o consumidor final deu mostras de exaustão, recorrendo menos ao mercado (como, aliás, é típico de, praticamente, todas as semanas finais de cada mês).
O fato principal é que o setor está entrando no mês de março (e no período de Quaresma) com a oferta totalmente ajustada. Portanto, são enormes as perspectivas de novas valorizações.
Enormes, também (mas só na aparência) são os ganhos de mais de 40% em relação a janeiro. Notar, porém, que em termos anuais a valorização mal passa dos 13,5%. Ou seja: embora pouco superior à inflação oficial, essa valorização permanece significativamente aquém da evolução dos custos, mantendo o setor produtivo sob contínuo desafio.
Por sinal, graças à valorização obtida em fevereiro, o ovo fecha o primeiro bimestre de 2022 valendo em torno de R$111,76/caixa (valor aplicável a cargas fechadas do ovo branco extra comercializado no atacado da cidade de São Paulo), 21% a mais que o registrado em janeiro. Porém, o valor mais recente se encontra apenas 10% acima da média alcançada no mesmo bimestre de 2021. Quer dizer: o preço melhor alcançado no mês que passou na verdade não teve nada de excepcional.