Com o aval dado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para a importação de milho dos Estados Unidos, empresas brasileiras que aguardavam a liberação já trabalham para começar a trazer o grão. A Resolução Normativa nº 32, que autoriza a importação, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) nesta quinta-feira.
O documento do órgão altera regras sobre cultivares transgênicas e torna viável, entre outros pontos, a compra do cereal norte-americano – a mudança valerá a partir de 1º de julho. Importadores relatam tratativas adiantadas para a contratação de ao menos três navios, com cerca de 65 mil toneladas cada. Eles devem chegar ao país, provavelmente por Santa Catarina, a partir da segunda quinzena do próximo mês.
De acordo com informações preliminares, há potencial de contratação de outros sete navios, diz José Antônio Ribas Júnior, presidente do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne/SC). O executivo não mencionou os nomes das empresas.
“A liberação é fundamental. Faz parte de estratégia para o setor sob a ótica de custo e disponibilidade de grãos para que sigamos oferecendo proteína sem que isso seja um elemento adicional de aumento da inflação”, afirma. Segundo ele, os esforços para a liberação exigiram reuniões em diferentes instâncias em Brasília. O encontro mais recente, conta, foi na última terça-feira, com integrantes a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Embora a importação do milho norte-americano seja vista como uma alternativa pontual, a liberação é estratégica. O setor ganha poder de barganha para negociar o cereal, principal insumo da ração animal, em um ano em que seus preços atingiram patamares recordes. Em suínos, aves e ovos, o milho e a soja representam 70% dos custos de produção.
Ainda segundo Ribas Jr., com a alta do milho, neste momento, o grão norte-americano chega ao Brasil com preços mais competitivos que os do grão disponível no mercado interno, especialmente em Santa Catarina. “Logo o equilíbrio será retomado”, acrescenta.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) avaliou como positiva a resolução do CTNBio. “Com a redução do desequilíbrio que existia entre a fácil exportação de grãos brasileiros e a difícil importação para território nacional, além da viabilização técnica da importação proveniente de grandes produtores de grãos, como é o caso dos EUA (aliada à isenção da TEC de importação desses insumos), espera-se que a especulação que causou aumentos injustificados no Brasil (com impacto na inflação dos alimentos) arrefeça gradativamente”, afirmou a entidade, em nota divulgada nesta quinta.
Ontem, em comentários sobre as perspectivas para a safra 2021/22, o gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, reforçou que a abertura total para a importação de milho dos Estados Unidos deve ter impacto limitado sobre os preços, mas poderá ajudar a diminuir a preocupação com a falta do produto. “Os preços de paridade elevados ainda dificultam a compra do cereal americano”, disse.
Segundo ele, o Brasil importou 820 mil toneladas de milho entre janeiro e maio deste ano. As compras ajudaram a indústria de proteína animal a minimizar os impactos do aumento dos preços do grão no mercado interno, mas não eliminam os efeitos da alta sobre os custos da cadeia. A decisão do CTNBio pode ajudar caso haja quebra de produção na Argentina, de onde os brasileiros já compram o cereal, que sofreu com o clima. Todas essas movimentações no mercado de milho não vão pressionar os preços para patamares vistos antes da pandemia, analisou Bellotti.