O aperto na oferta de milho é um fator central na alta dos custos da indústria brasileira de aves e suínos. Até maio, a intensidade desse aperto estará diretamente ligada ao que vier do céu – literalmente. Nesse período, as lavouras de milho safrinha precisarão de mais chuva para que a quebra não seja maior do que o já previsto.
“Sabemos que a produção não vai ser cheia. Resta saber ainda qual será o tamanho da perda” — afirma o analista Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado. A consultoria prevê colheita de 80,7 milhões de toneladas na segunda safra do cereal em 2020/21, mas deve reduzir essa projeção nas próximas semanas. Em 2019/20, a safrinha foi de 75 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab ).
Na semana passada, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) passou a estimar em 34,99 milhões de toneladas a produção de milho do Estado, concentrada na safrinha. A projeção anterior era de 36,2 milhões de toneladas. Caso a nova previsão se confirme, a produção será 1,3% menor que a da temporada anterior, mesmo com um aumento de 4,9% na área de plantio.
Neste ano, 45% da área foi semeada fora da janela ideal no Estado, relata Daniel Latorraca, superintendente do Imea. A produtividade esperada para as lavouras de milho de Mato Grosso caiu de 106 para 102 sacas por hectare. Na safra passada, a produtividade foi de 109,02 sacas por hectare.
Segundo as projeções atuais, esta será a segunda maior safrinha da história no Estado, atrás apenas de 2019/20. Ainda que expressivo, o volume deve apenas empatar com a demanda total pelo milho produzido no Estado, que o Imea calcula em 34,98 milhões de toneladas. O estoque final deve ser de 100 mil toneladas.
A balança de oferta e demanda apertada em Mato Grosso explica a preocupação adicional com o clima. “Nos próximos 20 dias, as chuvas serão importantes, especialmente para as lavouras semeadas em março”, afirma Latorraca.
Marco Antonio Santos, agrometeorologista da Rural Clima, diz que, em maio, deve voltar a chover nas áreas de milho safrinha, ainda que não de forma generalizada. “Para Mato Grosso, Goiás e o cerrado mineiro, há previsão de chuvas, mas irregulares”, relata ele.
A situação em Mato Grosso não é a ideal, mas é melhor que a de regiões produtoras de Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, para as quais não há previsão de chuva para os próximos dias. “Tivemos algumas chuvas esparsas, mas há 20 dias não registramos nenhuma de mais volume”, conta Carlos Hugo Godinho, do Departamento de Economia Rural (Deral), da secretaria de Agricultura do Paraná.
Segundo ele, o plantio ainda não ocorreu em 1% da área, estimada em 2,38 milhões de hectares, mas é possível que os trabalhos não prossigam, já que a semeadura ocorreria muito além da janela ideal, encerrada no fim de março. O Paraná deverá produzir 13,4 milhões de toneladas, 12% a mais do que no ano passado. “As próximas projeções já devem trazer o reflexo da falta de chuvas”, diz Godinho.