O Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu zerar a Tarifa Externa Comum (TEC) para a importação de milho e soja e derivados de países de fora do Mercosul até o fim deste ano. O objetivo é garantir o abastecimento interno e a competitividade do segmento de carnes brasileiro, que encara forte aumento de custos por causa dos elevados preços desses grãos, insumos básicos para a alimentação de aves e suínos.
“Estamos analisando diversas maneiras de contribuir para a competitividade do setor de carnes do Brasil em um cenário de pressão de preços, tanto para assegurar um bom desempenho da cadeia quanto o abastecimento doméstico a custos acessíveis”, afirmou ao Valor o secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Flávio Bettarello.
De acordo com a decisão, voltam a ser suspensas as tarifas de 8% sobre as importações de soja em grão e de milho, de 10% sobre óleo de soja e de 6% sobre farinha e pellets. A isenção entrará em vigor sete dias depois da publicação da resolução do Gecex. Valerá para a importação de milho em grão e da soja mesmo triturada, além do óleo, do farelo e de pellets da oleaginosa. Não foram estabelecidas cotas máximas para as compras. A decisão foi tomada em reunião extraordinária do colegiado realizada ontem.
Em outubro do ano passado, a Camex já havia zerado a TEC para a importação de soja e milho. Os prazos se esgotaram em 15 de janeiro, para soja e derivados, e em 31 de março para o milho. A expectativa era de que haveria estabilização dos preços externos e que a colheita da safra de verão ajudaria a reequilibrar o mercado, principalmente para o setor da proteína animal. Mas isso não aconteceu.
Mesmo com colheitas recordes de soja e milho nesta temporada 2020/21, os preços internos seguiram em alta em consequência da forte demanda externa e da manutenção da desvalorização do real frente ao dólar.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa grandes empresas como BRF e Seara (JBS), comemorou a decisão. A entidade já havia pedido a prorrogação da isenção ao Ministério da Agricultura no início do mês.
“A gente acha que é uma alternativa importante para acabar com a pressão inflacionária e especulativa que estava acontecendo [no mercado]”, comentou Ricardo Santin, presidente da ABPA.
O dirigente vê com bons olhos a expansão do leque de origens para as compras da indústria. Segundo ele, as empresas já estão aguardando a chegada de dois navios com cargas de milho da Argentina para os próximos dias, e não descartam mais importações – agora também de outros grandes produtores mundiais.
O indicador Esalq/BM&FBovespa para a saca de 60 quilos de milho alcançou ontem R$ 97,91, com alta de 90% nos últimos 12 meses e um novo valor recorde – e, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vendedores já pedem mais de R$ 100. Já o indicador Cepea/Esalq para a saca de soja negociada no interior do Paraná voltou a superar a barreira de R$ 172, com valorização de 81% em 12 meses e muito perto da máxima de R$ 172,66 registrada no último dia 14.