Ferramenta da startup brasileira permitirá a compradores e vendedores de soja e milho utilizar em tempo real a base de dados bolsa de Chicago.
A CME, que controla a bolsa de Chicago, e a plataforma brasileira de negociação de produtos agrícolas Grão Direto lançarão hoje uma ferramenta que permitirá a compradores e vendedores de grãos utilizar em tempo real a base de dados da bolsa americana. Com o serviço, será possível fazer estimativas mais precisas dos preços praticados no mercado físico do Brasil.
Batizada de “Clicou, Fechou”, a solução começou a ser desenvolvida no fim do ano passado. “Esse acordo, inédito no Brasil e no mundo, representa um novo patamar para a negociação de commodities agrícolas. Somos a primeira plataforma de negociações de grãos a ter acesso aos dados da bolsa de Chicago para derivar os preços no mercado físico”, diz Alexandre Borges, um dos sócios-fundadores da Grão Direto.
A agtech apresentou à CME o projeto, que reúne o design e a interface de sua plataforma e a base de dados da bolsa americana. A fase de testes da ferramenta começou ainda no fim do ano passado. Segundo Borges, o primeiro cliente a utilizar o serviço de precificação foi uma das chamadas “ABCD” (ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company), como é conhecido o grupo formado pelas quatro maiores tradings agrícolas do mundo.
Borges não mencionou o nome do cliente pioneiro, mas conta que a empresa abriu as portas de quatro de suas filiais para participar dos testes realizados no fim de 2020. Após o lançamento, a agtech estima que, até dezembro, o número de clientes (compradores e vendedores) habilitados na ferramenta será multiplicado por 20.
Além das cotações das commodities, a agtech incorporou 15 variáveis que compõem a estimativa de negociação e preço final, ajustadas em tempo real para a localidade do produtor. As cotações de Chicago representam uma das variáveis da ferramenta.
Produtores de todo o país poderão ter acesso à ferramenta. Inicialmente, ela servirá às vendas de soja e milho, mas, no futuro, outras commodities poderão ser incluídas. Os compradores (trading e empresas) pagarão as taxas do serviço, que chega aos produtores (vendedores) gratuitamente – todos os serviços da Grão Direto são gratuitos para os agricultores.
Em nota, a CME disse que o acordo foi uma forma de ajudar e contribuir para o crescimento de clientes globais, como o Brasil. “Estamos satisfeitos que os dados do mercado de commodities líderes da indústria do CME Group irão alimentar esta nova ferramenta inovadora para os usuários do mercado brasileiro de grãos”, disse Trey Berre, chefe global de serviços de dados da controladora da bolsa de Chicago.
Para o CEO da Grão Direto, a digitalização de processos no agronegócio poderá fortalecer iniciativas ligadas à sustentabilidade e à rastreabilidade da produção no setor. “Imagine só a facilidade como que os grãos poderão ser rastreados, do produtor brasileiro ao comprador na China. O agro precisa e quer isso cada vez mais”, diz.
Fundada em Uberaba (MG), a startup já levantou R$ 18 milhões com investidores desde que foi criada, em 2017. A primeira rodada de captação, que ocorreu no ano seguinte, foi liderada pela americana Monsanto, empresa posteriormente comprada pela Bayer. O engenheiro de produção Pedro Paiva e o cientista da computação Frederico Marques dividem com Alexandre Borges a sociedade na Grão Direto.