Recente matéria jornalística enfocando a chegada da Influenza Aviária à Bolívia e os riscos de sua introdução no Brasil colocou foco, particularmente, no estado de Rondônia. Na verdade, porém, são quatro os estados brasileiros fronteiriços à Bolívia. Na Região Norte, além de Rondônia, o Acre; e, no Centro-Oeste, dois estados grande produtores e exportadores de carne de frango: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Mais preocupante, porém, é o fato de os focos registrados se encontrarem a pequena e quase mesma distância de cidades do Centro-Oeste e do Norte do País. Ou seja: a distância entre Sacaba (cidade boliviana do departamento de Cochabamba, onde foi identificada a presença do vírus) e, por exemplo, cidades brasileiras como Vilhena (Rondônia), Cáceres (Mato Grosso) e Corumbá (Mato Grosso do Sul) não é muito diferente da distância que separa São Paulo de Salvador – em linha reta, menos de 1.500 km. E nessas regiões é que precisam ser concentrados esforços de vigilância.
O que também chama a atenção no tocante aos surtos registrados na América Latina é que, excetuados os atuais casos na Bolívia (envolvendo aves de criação doméstica), em todos os demais registros a ave afetada é o pelicano.
A própria Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) faz referência a isso ao citar (press-release de 3 de fevereiro) que entre as aves selvagens afetadas nas Américas estão o pelicano peruano ( Pelecanus thagus ) e o pelicano pardo ( Pelecanus occidentalis). E a pergunta que se faz, neste caso, é: as rotas migratórias dos pelicanos passam ou têm como destino o Brasil?
Brevíssima pesquisa na internet, sem qualquer caráter técnico ou maior aprofundamento, sugere que apenas uma espécie dessa ave – justamente a citada pela OMSA, o pelicano pardo (Pelecanus occidentalis) nidifica no Brasil. E o faz nos rios da Amazônia, “principalmente no Rio Negro”.
Por sinal, nossa rápida pesquisa levou a um trabalho técnico no journal “Research, Society and Development (pelicanos pardos e suas interações com pescadores artesanais no Parque Nacional de Anavilhanas) que confirma a presença da ave na região.
Publicado por dois técnicos do Instituto Chico Mendes (que administra o Parque Nacional de Anavilhanas, unidade de conservação da natureza localizada no estado do Amazonas e que abrange os municípios de Manaus, Iranduba e Novo Airão), esse trabalho mostra que na íntima interação com os pelicanos, os pescadores locais não só alimentam a ave, como também a consomem (um único caso registrado).
Tal relato é, sem dúvida, preocupante. Pois, mesmo sendo poucos até hoje os casos de Influenza Aviária em humanos, aqueles já registrados envolveram indivíduos que tiveram contato mais próximo com as aves infectadas. Não que este seja o caso das aves migrantes que chegam ao Parque de Anavilhanas. Mas intensificar a vigilância sanitária aos pelicanos, estendendo-a aos pescadores torna-se fundamental.