Movimento é parte da estratégia de internacionalização da empresa, que no início deste ano teve 50% de seu controle adquirido pela gigante de carnes JBS.
A Mantiqueira, que no início do ano teve 50% de seu controle adquirido pela JBS, está em “fase avançada de negociação” para comprar uma granja de aves poedeiras nos Estados Unidos, disse ao Valor o diretor-executivo da empresa, Márcio Utsch. O movimento integra a estratégia de internacionalização da companhia, vocalizada pela JBS ao entrar no capital da Mantiqueira. Além da aquisição da granja de “grande porte”, a empresa havia anunciado em fevereiro o plano de construir uma unidade do zero nos Estados Unidos.
De acordo com Utsch, a expectativa é anunciar as operações em “mais um ou dois meses”. Com a granja a ser adquirida e a que será implantada, o plantel da Mantiqueira nos EUA deverá somar entre 10 milhões e 15 milhões de aves, o que permitiria uma produção de cerca de 13 milhões de ovos por dia. Esse volume equivale à produção de aproximadamente 4,8 bilhões de ovos por ano, estimou.
“Seria um plantel razoável para você ter uma produção do tamanho do país [EUA], tamanho do consumo, para você começar a ter realmente uma relevância”, disse. A previsão é que essa capacidade total, similar à atual produção brasileira da Mantiqueira, seja atingida em cerca de dois anos.
A expectativa é que a estrutura da JBS nos Estados Unidos e as sinergias entre as duas companhias facilitem a entrada da Mantiqueira no mercado americano. Utsch afirmou, sem revelar detalhes, que a sociedade com a gigante de carnes também ajudou a “dar uma revigorada na estrutura de capital e de balanços” da empresa produtora de ovos.
A estimativa da Mantiqueira é atingir faturamento anual entre US$ 600 milhões e US$ 700 milhões no mercado americano em até cinco anos, disse o fundador da Mantiqueira, Leandro Pinto, em evento em junho, segundo a agência Bloomberg.
De acordo com o diretor-executivo da Mantiqueira, as negociações para instalar operações nos Estados Unidos começaram há cerca de dois anos, num cenário bem diferente do que se vê hoje. Então, ainda não havia a forte demanda americana por ovos do exterior por causa da disseminação da gripe aviária nos EUA nem as políticas tarifárias do governo Donald Trump.
“Todo mundo começou a comprar da gente, e o crescimento percentual é um absurdo, mas se você dobra uma ervilha, vira uma azeitona”, brincou, citando uma base comparativa de exportação ainda reduzida e que não chega a 3% da produção de ovos da empresa.
O executivo destacou que a Mantiqueira tem buscado aproveitar as oportunidades externas, mas reforçou que a entrada no mercado americano tem caráter estratégico. Para consolidar essa presença, segundo ele, é necessário estabelecer produção local. “A produção lá fora, quando você tem todo o ciclo de receitas na sua moeda local, realmente você tem uma empresa mais forte”, afirmou.
O mercado americano tem atraído outras produtoras de ovos do Brasil. Em maio, a Granja Faria concluiu a aquisição da americana Hillandale Farms por US$ 1,1 bilhão. A operação foi realizada pela Global Eggs, companhia controlada pelo empresário Ricardo Faria.
A Mantiqueira, que já é uma das maiores do segmento no Brasil, também busca ampliar a capacidade de produção no mercado doméstico. A meta é passar da produção atual de cerca de 4 bilhões para 5,5 bilhões de ovos por ano. A estratégia envolve tanto a expansão de unidades já existentes quanto a aquisição de granjas.
Na última semana, a empresa esteve no interior de Goiás avaliando uma potencial aquisição, segundo Márcio Utsch. Em paralelo, a Mantiqueira também planeja erguer uma operação do zero em outra localidade. O executivo disse que a “viabilidade hídrica” da região está em análise.
Além dos novos projetos, a empresa prevê aumento de capacidade em unidades existentes: cerca de 40% no complexo de Itanhandu (MG), 50% em Lorena (SP), 15% em Goiás e 40% no Paraná. A expectativa é que aproximadamente 20% desse crescimento ocorra ainda em 2025, e que já haja ganhos na receita em função do aumento do volume.
A empresa, atualmente, tem faturamento anual na casa de R$ 2 bilhões e 18 unidades de produção em seis Estados: Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Paraná e Santa Catarina.