Começou a ser escrito ontem um novo capítulo na história de 35 anos da Mantiqueira Brasil, uma das maiores produtores de ovos do país. Leandro Pinto, que fundou a empresa e desde então comandava o dia a dia das operações, deixou o cargo de CEO e se dedicará a outras funções no grupo, inclusive à frente do conselho de administração. O bastão executivo agora está com Márcio Utsch, conhecido por ter presidido a Alpargatas, onde trabalhou entre 1997 e 2019, e que atualmente lidera o conselho da mineira Cemig, uma das maiores companhias de energia do país.
Membro do conselho da Mantiqueira desde 2019, Utsch assume o timão da Mantiqueira em meio a uma acelerada expansão dos negócios, marcado pela paulatina migração para o modelo de produção com galinhas livres, pela diversificação dos canais de vendas e por aquisições – em janeiro, o Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra da Fazenda da Toca Orgânicos e da Rizoma Agro, empresas fundadas pelo empresário Pedro Paulo Diniz. A Mantiqueira encerrou 2022 como líder em vendas de ovos comerciais no país, com faturamento de R$ 1,5 bilhão, 4% provenientes de exportações, e pretende manter essa liderança em 2023, com a expectativa de chegar a R$ 2 bilhões.
“Vamos dar continuidade à nossa expansão com crescimento orgânico; intensificação dos negócios em novas categorias, como a de ovos de galinhas criadas livres; diversificação geográfica no país e no exterior; e, se houver oportunidade, novas aquisições”, afirmou Utsch, que na quinta-feira completará 64 anos, ao Valor. Atualmente, a empresa conta com 21 unidades espalhadas por Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo – que produzem mais de 3 bilhões de ovos por ano -, cerca de 14,5 milhões de aves e três marcas principais (Mantiqueira, Santa Clara e Happy Eggs).
Nas negociações com Leandro Pinto e seu sócio Carlos Cunha, Utsch também recebeu uma pequena participação na companhia, não revelada. As tratativas começaram em abril do ano passado, quando o ex-Alpargatas recebeu um convite de um grupo de educação para voltar a ocupar o cargo de CEO. Utsch conta que pediu a opinião dos sócios da Mantiqueira sobre essa possível volta, e que ambos não só gostaram da ideia como já iniciaram o “namoro” para que ele assumisse o comando da companhia de ovos.
“Foi um convite que me motivou muito. Estamos construindo uma empresa moderna tanto do ponto de vista operacional quando na maneira de interagir com a sociedade. Trabalharemos ainda mais nossa marca, para consolidarmos uma identidade própria”, afirmou. Nesse caminho, reforçou, um dos objetivos é ter, no futuro, apenas galinhas criadas livres. Sempre com investimentos em tecnologia, para garantir produtividade e reduzir custos – até porque criar galinhas livres, embora estimule a produção de ovos, custa mais caro do que no modelo convencional.
Outro ponto destacado pelo novo CEO são os esforços em curso em governança corporativa e na área financeira da Mantiqueira. Os balanços da companhia são auditados há cerca de seis anos, mas a ideia é melhorar a organização dos dados que constam nos relatórios de resultados para garantir mais acesso aos recursos disponíveis no mercado e, quem sabe, partir para uma abertura de capital. E as pessoas que trabalham na empresa também estão no foco de Utsch, num cenário em que o agronegócio brasileiro em geral tem reclamado da falta de profissionais capacitados à disposição. Mais treinamento e capacitação dos 2,2 mil colaboradores que trabalham na divisão de ovos estão por vir.