Depois de, em março passado, alcançarem recorde histórico, os preços dos alimentos acompanhados pela FAO entraram em retrocesso, mas continuam entre os mais elevados de todos os tempos.
Em junho, pelo terceiro mês consecutivo, o FFPI (sigla, em inglês, para Índice de Preços dos Alimentos da FAO) apresentou novo declínio, alcançando 154,25 pontos, resultado 2,34% e 3,42% inferior aos registrados, respectivamente, no mês anterior e no recorde de março. Ainda assim, prevalece uma alta anual de 23,13%, enquanto em relação a dezembro/21 a variação, positiva, é de 15,38%.
A queda de junho foi determinada pelos cereais, óleos vegetais e açúcar. Ou seja: foram exceção, apenas, os produtos de origem animal. Os laticínios aumentaram 4,10% e as carnes 1,68%, mas, em termos anuais, registram evolução de preço inferior à dos cereais e óleos vegetais (27,64% e 34,32%), pois o valor alcançado em junho pelos laticínios ficou cerca de 25% acima do registrado há um ano, enquanto a variação das carnes não chegou a 13%.
É verdade que o valor alcançado pelas carnes no fechamento do primeiro semestre de 2022 correspondeu a novo recorde de preço – o que, por sinal, se repetiu pelo terceiro mês consecutivo. Notar, porém, que continuam a significativa distância do FFPI e, sobretudo, dos cereais.
Isso fica mais claro no gráfico abaixo, no qual é mostrada a evolução de preço dos cereais e das carnes desde 2015. Assim, considerando que o preço de ambos girava em torno de um índice “100” em boa parte de 2015, constata-se que o recorde de preços ora obtido pelas carnes corresponde a um aumento de 24,72%. Já os cereais, mesmo registrando queda de preço em junho, continuam com preço 66,34% superior ao registrado sete anos atrás.
As altas mais recentes, tanto dos cereais quanto das carnes, têm sido atribuídas principalmente aos efeitos da guerra na Ucrânia. Observe-se, porém, que a alta dos cereais começou bem antes, em meados de 2020, ainda na primeira fase da pandemia. Mais tarde foi seguida pelas carnes, mas registrando índices de aumento menores.
Vale ressaltar, neste caso, que do início de 2015 até meados de 2020 os preços das carnes e dos cereais mantiveram relativa paridade. Tanto que, em junho de 2020, a diferença de preço entre eles (comparativamente à média de 2014/16, igual a “100”) não chegava a 2 pontos percentuais. Agora se encontra em 41,6 pontos percentuais – a favor, claro, dos cereais.