A ascensão de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial (IA) generativa, e as mudanças climáticas desafiam a sobrevivência das empresas do agro brasileiro. Hoje, quase um terço dos CEOs do setor acredita que seus negócios serão inviáveis em 10 anos caso sigam com o modelo atual, indica a pesquisa 27ª Global CEO Survey, da empresa de auditoria e consultoria PwC.
A companhia ouviu 4,7 mil líderes de empresas do setor em mais de 100 países, entre eles o Brasil, e apresentou a jornalistas os resultados do setor produtivo brasileiro. No ano passado, o índice era de 23%.
O percentual de empresas do agronegócio que se sentem ameaçadas é inferior à média geral brasileira, de 41%, segundo a PwC. A relevância do país para oferta de alimentos e transição energética globais explica por que o setor está mais confortável. “Mas um terço é muita coisa”, salienta Maurício Moraes, sócio da PwC que lidera o setor de agronegócios da empresa.
A pesquisa indica que a normalização dos preços de commodities reduziu a expectativa de aumentos nas receitas das empresas do agronegócio. Em 2023, 70% dos CEOs ouvidos apostam em um crescimento; hoje são 57%.
Segundo o executivo, é preciso revisar e reinventar os modelos de negócio, o que parte de um olhar profundo para os consumidores e novas dinâmicas de mercado. “Precisamos olhar o que existe para nos posicionar, revisitar ou migrar de modelo de negócios”, afirma Moraes.
IA generativa
Dentre os respondentes, 69% das lideranças do agronegócio dizem que a IA generativa vai aumentar a eficiência do trabalho de suas empresas e 54% afirmam que haverá ganhos de qualidade nos produtos. No entanto, somente 23% responderam que suas empresas adotaram essas soluções nos últimos 12 meses e 11% fizeram alterações para integrar IA generativa em seus modelos de negócio.
Na média geral brasileira, 32% das empresas adotaram essas soluções no último ano e 34% mudaram suas estratégias para se adequar à IA generativa. Isso considerando que 64% avaliam que a tecnologia deve aumentar a eficiência das empresas.
O levantamento revela que o setor está menos confiante nessas tecnologias do que a média geral do mercado. Enquanto 34% dos CEOs do agronegócio acreditam que a IA generativa aumentará a capacidade das empresas de conquistar a confiança de stakeholders, a média nacional é de 50%.
De acordo com Moraes, o uso de Inteligência Artificial no campo não é uma novidade, mas ainda há barreiras para ampla adoção, como a falta de internet no campo e a escassez de profissionais que entendam dessas tecnologias. “Mas temos recebido muitos pedidos para ajudar a estruturar e captar dados de maneira mais eficiente”, diz.
A principal desconfiança das lideranças do agronegócio em relação à IA generativa é com cibersegurança (80% indicam como fator de risco). Já a divulgação de informações falsas ou imprecisas aparece na sequência, preocupando 63% dos CEOs.
Mudanças climáticas
Em outra frente, as mudanças climáticas preocupam muito mais o agronegócio do que outros setores, confirmam CEOs. Enquanto 71% das lideranças do setor veem os desafios impostos pelo clima alterando a forma como pensam e criam produtos, a média brasileira geral é de 29%.
Quase 90% das empresas têm esforços em andamento ou já concluídos para melhorar a eficiência energética e inovar em produtos e serviços com baixo impacto climáticos. Além disso, 37% das companhias estão aceitando taxas de retorno mais baixas em investimentos com uma pegada de carbono menor.
Um ponto preocupante é que apenas metade dos CEOs do agro incluíram no cálculo de riscos financeiros das empresas as questões do clima. “É um número baixo. A gente assiste a diversas situações que mostram que precisamos trabalhar com planejamentos financeiros que incluem um percentual vindo do clima”, diz Moraes.