Os debates do bloco de sanidade do 23º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA) tiveram foco no uso da tecnologia para combater a resistência bacteriana, e na busca por alternativas para substituir os antimicrobianos. A nanotecnologia já está presente em diversos produtos do nosso dia a dia, como roupas, maquiagem e medicamentos. Diante do potencial dessa técnica, há grande expectativa para que ela se torne cada vez mais acessível e possa ser amplamente utilizada por diferentes setores da agropecuária para fortalecer a produtividade.
Neste contexto, o uso da nanotecnologia é visto como uma estratégia promissora para enfrentar a resistência bacteriana aos antibióticos. O médico veterinário Humberto de Mello Brandão apresentou conceitos e perspectivas para explorar essa tecnologia na cadeia produtiva.
Hoje, o desenvolvimento de novos medicamentos antibióticos enfrenta barreiras no alto custo de produção e na demora para aprovação das agências reguladoras. Essa espera facilita que a evolução à resistência bacteriana ocorra muitas vezes antes dos antibióticos serem lançados ao mercado. A nanotecnologia entra, justamente, como alternativa a esse processo, por ser capaz de melhorar os medicamentos já existentes.
“Vivemos uma eterna guerra contra as bactérias, na qual, sempre que desenvolvemos um antibiótico novo, em seguida, aparecem novas bactérias. Isso vem acontecendo desde que apareceram os primeiros antibióticos e, hoje, o custo para desenvolver novas moléculas é altíssimo, ficando entre 500 milhões e 2 bilhões de dólares”, afirmou o médico veterinário.
A intenção é usar a nanotecnologia para aperfeiçoar essas moléculas que já estão no mercado. “Ela não causa alteração na molécula do princípio ativo, porém o potencializa. Com a nanotecnologia, é possível pegar um antibiótico e promover uma melhor biodistribuição desse medicamento, ajustando seu metabolismo pelo organismo, tornando-o mais efetivo e minimizando o risco de seleção de bactérias resistentes”.
Brandão salientou que o combate às bactérias resistentes é um grande desafio e exige múltiplas ferramentas. “Não será somente com nanopartículas, mas com um conjunto de ações. Temos que fazer desde o básico, que é o uso ordenado dos antibióticos, acompanhado de tecnologias periféricas para conseguirmos ter a produtividade que almejamos”.
A doutora em Patologia Aviária, Elizabeth Santin, também ressaltou a importância do uso racional de antimicrobianos e apresentou alternativas e soluções para esses medicamentos. Segundo Elizabeth, os antimicrobianos no começo eram usados para tratamento, depois para prevenção e ainda incorporaram a função de promotores de crescimento. Essa última finalidade dos antimicrobianos, na avaliação da especialista, poderia ser repensada, ao passo em que avançam as tecnologias e novas abordagens para melhorar o desempenho dos animais.
Entre as alternativas aos antimicrobianos está o conceito de Holobiontes, que pode ser usado tanto para a saúde como para a eficiência produtiva das aves. “Esse conceito considera o animal e os microrganismos como um indivíduo único, porque sabemos que eles interagem um com outro, e essa interação é fundamental para manter a saúde e performance dos animais”.
A doutora mostrou estudos e possíveis soluções que permitiriam substituir o uso de antimicrobianos na promoção de crescimento dos animais, com foco nos resultados de desempenho decorrentes do manejo de problemas gastrointestinais. Ainda mostrou cálculos de conversão alimentar, com base em carne vendável, para demonstrar as vantagens que essas medidas alternativas podem trazer. “Assim como temos tecnologias excelentes para o melhor benefício da produção animal, temos que saber avaliá-las, rever as metodologias que utilizamos e rever também os custos e parâmetros que usamos. Isso fará uma grande diferença na hora de eleger a troca dos antimicrobianos como promotores de crescimento por tecnologias mais avançadas, que vão trazer resultados melhores e reduzir a resistência antimicrobiana”, pontuou Elizabeth.