Depois do caso de IAAP na avicultura comercial e de seus desdobramentos sobre as exportações brasileiras de carne de frango, os meios de comunicação em geral habituaram-se a interpretar as investigações em andamento no Serviço Veterinário Oficial como “novos casos suspeitos” da Doença. E fazem desse “achado” verdadeiro carnaval que assusta não apenas o setor, mas o público em geral.
Na verdade, nos últimos dois anos, já foram colocados para avaliação no Serviço Veterinário Oficial (SVO) perto de 4.120 casos suspeitos de IAAP. Desse total, quase três quartos foram imediatamente descartados, coletando-se amostras de perto de 1.150 deles. Por fim, não mais que 4% das mais de quatro mil suspeitas iniciais tiveram a doença confirmada – 162 em aves silvestres, cinco em mamíferos aquáticos, quatro em aves de subsistência e um (recente) em aves comerciais.
De toda forma, é impossível ignorar que o total de casos suspeitos aumentou significativamente de meados de maio para cá. O número inicial recebido nas últimas quatro semanas pelo SVO subiu perto de 5% (de 3.920 para 4.115 casos) e o de casos com coleta de amostras quase 7% (de 1.074 para 1.147 casos) – um resultado bem acima do registrado nas três semanas anteriores, quando os aumentos não chegaram a 1,5%.
Isso, claro, é reflexo do aumento da vigilância depois do registro de caso comercial no Sul do País. Mas parece, também estar muito mais relacionado à época do ano – a chegada do Inverno.
A propósito, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), para melhor acompanhar os altos e baixos dos surtos ao redor do mundo, desenvolveu um calendário anual para a IAAP. Ele começa no mês de outubro de um exercício e se encerra no mês de setembro do exercício seguinte. Tem indicado que o maior número de ocorrências é observado entre outubro/novembro de um exercício, estendendo-se até janeiro/fevereiro do ano seguinte. Opostamente, o menor número de ocorrências é observado seis meses depois.
Embora correto, esse é um calendário aplicável exclusivamente ao Hemisfério Norte. Pois, como é típico do vírus Influenza (humana, aviária, suína), também o H5N1 começa a aparecer com a queda das temperaturas, ou seja, em pleno Outono, outubro no Hemisfério Setentrional.
Aplicado o mesmo princípio ao Hemisfério Sul – portanto, também ao Brasil – tem-se o calendário sugerido abaixo. Ou seja: embora o número de casos possa variar significativamente conforme as variações na temperatura, o atual momento – chegada do Inverno – pode estar correspondendo ao pico do problema.
Portanto, mais do que nunca, as medidas de biosseguridade precisam ser praticadas ao extremo. E devem ter continuidade no restante do ano, mesmo porque os novos casos não têm respeitado muito o calendário aplicado à doença.