Por Osler Desouzart
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O presente estudo tem o objetivo de estabelecer, a partir de fatos e dados, o consumo per capita da carne mais consumida no Brasil que é a carne de frango. Abordaremos ainda as demais aves ainda que não sejam fartas em fontes estatísticas. Esse estudo objetiva aportar números, calculados conforme uma metodologia descrita, aos interessados pelo tema.
Usaremos para a produção dados publicados pelo IBGE, tanto em sua Pesquisa da Pecuária Municipal – PPM quanto na Pesquisa Trimestral de Abates . Naturalmente, as pesquisas do IBGE restringem-se a abates sob fiscalização sanitária federal, estadual ou municipal. Não incluem outros tipos de abates, inclusive informais que seguramente existe, mas cuja expressão é pouco significativa, se considerarmos as estatísticas de alojamento de matrizes de frangos e a produção industrial de pintos de um dia.
O peso médio dos animais abatidos resulta de uma simples função de média do peso total e do número de cabeças abatidos, para permitir avaliar a evolução do rendimento.
O consumo aparente corresponde a: (Produção + Importação) – Exportação. E o consumo aparente per capita é este resultado dividido pela população brasileira estimada pelo IBGE a cada dia 1ºde julho.
Os dados sobre importação e exportação foram levantados a partir da Comex Stat . As posições da NCM abrangidas são listadas ao final deste escrito para as carnes de frango e outras aves .
Iniciamos com as Carnes de Aves, ainda que no Brasil “outras aves” representaram em 2020 somente 1,2% do consumo total e a carne de frango respondendo pelos 98,1% restantes.
Nosso consumo de carnes de aves infelizmente sofreu queda de 2018 a 2019 devido a uma significativa redução na produção e consumo de carne de peru. A aceleração do consumo de carne de frango em substituição às carnes suína e bovina, ambas dolarizadas e cujos preços as tornaram menos accessíveis a um consumidor que sofria com perda de emprego e de renda, enquanto o vital setor do foodservice era arrasado pelos sucessivos lockdowns.
Mesmo na carne de frango há algumas interessantes mudanças no padrão do consumo. Infelizmente não tenho acesso a dados preciosos como os que dispunha quando trabalhava na Sadia e que nos permitia acompanhar mensalmente as oscilações das preferências do consumidor a partir de uma base real, como as compras efetuadas nas grandes organizações do varejo. Sou, então, obrigado a um método empírico, a observação.
Moro numa região onde num raio de 5 km é possível estudar quinhentos anos de evolução das técnicas de varejo, indo da feira de rua, ao açougue, quitanda, vendinhas, supermercado de descontos, supermercados tradicionais, hipermercados, lojas de luxo e organizações que primam pelas vendas virtuais e deliveries.
Sou um confesso e frequente frequentador de lojas e entre uma final de campeonato de futebol e uma ida aos canais de varejo não hesito um nanosegundo em confirmar minha preferência. Entre, as lojas que frequento como cliente, há uma situada num shopping center voltado às classes média e de renda ascendente. A partir de 2020 pude observar que pela primeira vez em mais de uma década essa loja começou a vender itens de frango de baixo custo, como pés, pescoço, ponta de asa e fígado. Lá estão agora convivendo com corte tradicionais e sofisticados, produtos a prova de idiotas em que se o consumidor souber acender o forno pode ter uma refeição a partir de um corte que retira direto do congelador.
Os números que estudamos no dão somente uma visão do consumo de patos, marrecos e gansos, mas pouco em relação a outras aves como galinha d’Angola, codornas e aves exóticas, já que inexistem dados disponíveis, nem oficiais nem mantidos por associações de criadores.
Na próxima tabela poderemos examinar o balanço da carne de frangos. Há quem se surpreenda com o fato de o Brasil importar mais de 4.000 toneladas de itens de frango, mas a explicação está na voracidade do brasileiro por corações de frango como um dos aperitivos favoritos do churrasco que é o item de maior preço unitário no varejo, entre todas as opções de carnes e vísceras comestíveis de um frango disponíveis no mercado. Consumindo mais de 45 kg/hab/ano a carne de frango se aproxima de um nível de saturação.
Ainda tem espaço para crescer devido ao menor consumo em duas regiões brasileiras e, sobretudo pelo fato de ainda termos uma massa importante de pessoas que vivem com menos de US$ 2,00/capita/dia. A situação de renda de nossa população sofreu queda em 2019 e 2020 e neste primeiro trimestre de 2021 há uma nítida recuperação na economia, com prognósticos positivos para o ano.
A imprensa fúnebre festeja cada falecimento por Covid, anuncia a força das variantes do vírus e clama pela iminência de uma terceira onda da doença que estou certo será saudada com loas e encômios. Além disso, políticos têm agendas políticas desde os tempos de Sargão da Acádia. Os nossos não são diferentes e essas agendas frequentemente distanciam-se das necessidades do país. Isso para dizer que não podemos descartar novos lockouts determinados por prefeitos e governadores, com o natural potencial de impactar negativamente o quadro de recuperação da economia e da renda.
Em breve, ainda não estamos fora da zona de risco de impactos na renda da população. Desde os tempos em que tinha cabelos e ilusões que recito meu mantra: maior renda = mais carne. A contraposição é menor renda = mais feijão com arroz.
Despeço-me anunciando que em breve publicarei atualização do consumo per capita das demais carnes e que estou fazendo uma arqueologia de dados com o objetivo de retroagir de 1997os dados sobre consumo per capita de carnes no Brasil. Quem sabe não será útil a alguém quando eu for fazer companhia ao Rei Sargão.