Apenas em março, produto subiu 13,13%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Com a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação dos alimentos voltou ao centro das atenções — com destaque para os ovos comerciais, que vêm registrando altas expressivas desde o início do ano. Em março, o produto teve aumento de 13,13%, segundo o IBGE, puxado principalmente pela oferta limitada no mercado interno e pela demanda sazonal da Quaresma, período em que o consumo costuma crescer. No acumulado do ano, a alta chega a 31,70%.
Esse movimento é reflexo de uma combinação de fatores.
O custo da ração, principal item na criação de poedeiras, subiu com a valorização do milho e do farelo de soja, pressionados por quebras de safra, clima irregular e alta do dólar.
O calor excessivo também impactou a produtividade das aves, e alguns produtores reduziram o plantel diante das margens apertadas, diminuindo a oferta.
O ovo passou a ser mais consumido como alternativa às carnes, também mais caras, o que intensificou ainda mais a pressão sobre os preços.
Para Claudia Scarpelin, pesquisadora do Cepea/Esalq-USP, no mês de março, os preços se mantiveram em patamares elevados, mas o ritmo de alta perdeu força. “Em algumas regiões, inclusive, observamos um recuo no preço médio em relação a fevereiro”, disse ela à Globo Rural.
Quando o ovo vai ficar mais barato?
A pesquisadora afirma que, durante a Quaresma deste ano, a tendência de aumento do consumo mais uma vez se confirmou. Nesta época do ano, tradicionalmente, praticantes do catolicismo restringem ou até mesmo interrompem o consumo de carnes, o que acaba abrindo espaço para fontes alternativas de proteína. “A gente acompanha esse mercado desde 2013 e já sabe que a procura por ovos costuma crescer nesse período”, diz.
Com a aproximação do fim desse período, que dura entre o fim do Carnaval e a Páscoa, os primeiros sinais de desaceleração começaram a aparecer. “As cotações continuam altas, mas já sentimos uma pressão maior por descontos nas negociações”, afirmou. Ela cita como exemplo a região de Bastos (SP), onde os preços dos ovos brancos tipo extra caíram 5% no início de abril em relação ao mês anterior.
Mesmo com essa possível retração da demanda, os preços podem seguir em patamar elevado, especialmente se os custos de produção continuarem altos. “O mercado de ovos reage principalmente à relação entre oferta e demanda. Se a oferta continuar controlada, os preços podem continuar firmes, mesmo com o consumo mais fraco”, avaliou.
Claudia Scarpelin chama a atenção, por outro lado, para um fator de risco: “Se os produtores aumentarem muito o plantel nos próximos meses, animados pelos bons preços de fevereiro, a oferta pode subir além do que o mercado consegue absorver”, diz. “E isso pode fazer com que as cotações recuem”.
Dados do Cepea mostram que, no início de abril, os preços permaneceram estáveis na maioria das regiões. Em São Paulo, por exemplo, o preço médio da caixa com 30 dúzias de ovos brancos continuou a ser de R$ 199,99 no começo do mês. Já em outras praças, como Recife, há uma leve retração — a queda foi de 2,08% no fechamento mais recente.