As grandes cooperativas perderam rentabilidade em 2023 e a perspectiva ainda não é de melhora este ano. As cooperativas com atuação mais focada em grãos tiveram os resultados afetados pela oscilação nos preços da soja e pela alta nos custos logísticos. As que atuam na área de carnes sofreram com a pressão da oferta, que impediu o reajuste de preços.
“O ano passado foi razoável. Os preços caíram demais, mas fizemos um volume maior que em 2022. Para este ano o preço está pior. E tivemos seca, a produção caiu bastante para quem plantou soja precoce”, disse Antonio Chavaglia, presidente do conselho de administração da Comigo. A cooperativa prevê perda de 10% a 12% na produção de soja.
A paranaense Coamo estima receber 85 milhões de sacas de soja em 2024, uma queda de 15% em relação ao ano passado, por causa do clima. Em 2023, a cooperativa recebeu 9,9 milhões de toneladas de grãos, e neste ano o volume deve chegar a 9,1 milhões.
Na Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), a queda dos preços internacionais do café e a alta do frete marítimo impactaram negativamente os resultados em 2023. O faturamento caiu 20%, mas a cooperativa espera melhora este ano, com alta de 7,7% na originação, para 7 milhões de sacas, e com a valorização dos preços internacionais.
A C.Vale, que no ano passado teve queda de 36,8% nas sobras, também prevê recuperação. “Esperamos que o cenário continue melhorando com a redução dos juros e da inflação”, disse Alfredo Lang, presidente da C.Vale. Ele estima receita 4% maior no ano, de R$ 24,81 bilhões. Em 2023, a C.Vale sofreu com a queda nos preços dos grãos. Em frangos, peixes e suínos, os resultados ficaram abaixo do esperado. Outro fator negativo foi a explosão em um silo em Palotina (PR) em julho, que matou dez pessoas e deixou dez feridos. A cooperativa fez uma provisão por conta do incidente de R$ 14 milhões.
No ano passado, os preços dos insumos também caíram, afetando a rentabilidade da Coopercitrus. “O faturamento geral caiu 14% em comparação a 2022, muito influenciado pela redução nos preços de insumos, que, na média, recuaram em torno de 50%. Movimentamos 18% mais volume de mercadorias, mas não foi suficiente para o faturamento crescer”, afirmou Fernando Degobbi, CEO da Coopercitrus. Para 2024, ele estima aumento de 11% na receita, com elevação nas vendas do café e de insumos para citros e cana.
As cooperativas que atuam no setor de proteína animal tiveram em sua maioria ganhos de receita, como C.Vale, Lar, Copacol, Coasul e Frimesa. Mas quase todas tiveram queda nas sobras. A Aurora Coop foi a única a ter prejuízo em 2023, de R$ 137,9 milhões. O resultado deveu-se à alta de custos e à sobre oferta de aves, que inviabilizou o reajuste de preços. Para 2024, a Aurora espera melhora na rentabilidade. A cooperativa vê espaço para reajustar preços em aves. Em suínos, lácteos e processados em geral, a demanda segue lenta, mas os custos baixaram.
A Castrolanda, que tem operações em laticínios, carnes e grãos, sofreu impactos negativos em todas as áreas. Willem Berend Bouwman, presidente do conselho de administração da cooperativa, disse que, em lácteos, as importações recordes de leite achataram o preço pago ao produtor. Em suínos, uma recessão na economia chinesa desacelerou o consumo, afetando as exportações brasileiras à China. Para 2024, a cooperativa vê um cenário ainda difícil e prevê receita de R$ 5,1 bilhões, ante R$ 5,5 bilhões em 2023.
Os impactos citados pelas grandes cooperativas se estenderam para as demais. “Praticamente metade da produção do agronegócio brasileiro passa por cooperativas, que são fundamentais para a inserção competitiva de pequenos e médios produtores nos sistemas agroindustriais”, afirmou Marcos Fava Neves, professor titular das faculdades de administração da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No Brasil, são quase 1,2 mil cooperativas, 1 milhão de produtores cooperados e 250 mil empregos diretos gerados, acrescentou Neves