Depois do clima “trágico” para a agricultura brasileira em 2021, quando culturas como café, cana, laranja e milho tiveram grandes quebras de safra, a tendência é que 2022 seja um ano melhor nessa frente para os produtores rurais – que, entretanto, tendem a ver suas margens se estreitarem em decorrência da alta de custos, principalmente com insumos.
A avaliação foi feita pelo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, durante a Live do Valor de ontem (13), a primeira de uma semana especial dedicada ao agro que está sendo realizada em parceria com a revista Globo Rural.
“O agronegócio em 2021 teve um ano muito difícil. Diria que houve dois momentos dramáticos: um por causa do clima e outro econômico”, disse Rodrigues, que é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O ex-ministro lembrou que, em 2021, o Brasil viveu sua pior seca em mais de 90 anos, o que castigou severamente a produção no Centro-Sul brasileiro. O maior reflexo foi na segunda safra de milho – que já começou fora da janela ideal de plantio, por conta do atraso dos trabalhos com a soja – e que teve na estiagem um agravante, o que levou a quebra a 20,8%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“Para 2022, a expectativa é mais favorável”, observou Rodrigues. A previsão da Conab é que a produção de grãos chegue a 291,1 milhões de toneladas nesta temporada 2021/22, com crescimento de 15,1% sobre 2020/21.
Do ponto de vista econômico, Roberto Rodrigues também destacou a forte escalada de preço das commodities agrícolas, com as cotações internacionais chegando a picos de mais de 50% de valorização durante o ano. Isso ajudou o produtor a fechar bons negócios e a garantir margens acima do normal, situação que não deverá se repetir com a mesma intensidade em 2022.
“Os custos explodiram, mas deveremos ter recordes. O ano de 2022 tende a ser positivo, mas com margens menores. Uma safra recorde no Brasil poderá ajudar a pressionar os preços das commodities agrícolas. Mas quem se antecipou e já travou posições [de venda] vai acabar faturando bem. Será uma margem menor, mas sem dificuldades”, reforçou Rodrigues.
Do ponto de vista de custos, a preocupação maior deverá ser com a segunda safra de 2021/22 e com o ciclo 2022/23, para o qual ainda há muitas incertezas, especialmente quanto ao fornecimento e aos custos dos insumos agrícolas. As sanções econômicas contra Belarus, uma das principais fornecedoras de potássio do mundo, e a crise energética na China, que também afeta a oferta de fertilizantes e defensivos, podem ser entraves no decorrer do ano.
“Havia uma preocupação dos fertilizantes não chegarem a tempo hábil ou a um custo adequado. Para o ano que vem, acredito que os problemas não deverão ser tão graves. Há também uma expectativa de reduzir a adubação, o que seria razoável para áreas mais consolidadas. Para os defensivos, a situação deverá ser um pouco pior”, projetou o ex-ministro.
Em meio às incertezas, Rodrigues destacou que o Auxílio Brasil, com pagamentos de R$ 400 por mês em 2022, poderá dar um impulso ao consumo de alimentos no mercado doméstico, assim como ocorreu com o auxílio emergencial concedido após o início da pandemia.
Outro alerta feito pelo ex-ministro é sobre a comunicação do setor em relação aos problemas enfrentados pelo Brasil na área ambiental. Ele acredita que a pressão internacional será ainda maior em 2022, e que cabe aos produtores brasileiros reforçaram sua contrariedade em relação a crimes ambientais cometidos por uma minoria que mancha a imagem do setor.
“A vertente ambiental ganhou peso diante de problemas de comunicação do Brasil. Negamos o desmatamento ilegal – que é uma evidência óbvia -, negamos as queimadas… Mas essas ilegalidades não são feitas por agricultores profissionais. Não podemos deixar que a questão ambiental se torne barreira ou tarifa para o agronegócio do Brasil”, afirmou Roberto Rodrigues.
Um exemplo citado pelo coordenador da FGV-Agro é a proposta da União Europeia para impedir a importação de commodities provenientes de áreas desmatadas, o que poderia criar um entrave para as exportações brasileiras de soja e carne bovina, por exemplo. “A proposta afeta a competitividade e cria dificuldades, como provar quando a área foi desmatada. Estão usando um argumento procedente para criar uma [eventual] barreira não-tarifária”.