A retomada econômica tem qualificado poucos setores. A maioria, ao contrário, continua amargando severos retrocessos e acentuados resultados negativos. No setor de alimentação animal, a perspectiva é avançar pouco mais de 1% em 2022, diferentemente dos 3,5% de incremento projetados ainda no início do ano. O ambiente inflacionário que aflige toda cadeia produtiva global de proteína animal, comprometeu também os resultados dos produtores brasileiros de carnes, ovos e leite, sejam eles verticalizados ou independentes.
Compulsoriamente, as cadeias produtivas globais diminuíram o ritmo durante a pandemia da Covid. Atualmente, mesmo vencida a inércia das máquinas, sua propulsão não alcança pleno vapor e, muito embora, as transações internacionais venham ganhando tração, os portos ainda não recuperaram aquele fluxo tradicional.
O cenário remete àquela desordem de 2021, quando todos amargaram as consequências das limitações e até impedimentos nos deslocamentos impostos em 2020. A parada de aviões e navios e a baixa disponibilidade de contêineres impulsionaram o custo do frete. O agravamento se deu pela falta de tantos insumos, escassez motivada pela parada das fábricas chinesas consequente ao déficit energético causado pela modificação da matriz fóssil para renovável e pela ausência dos trabalhadores em razão da política sanitária de “tolerância zero contra a Covid”.
Em seguida, a invasão russa na Ucrânia somou estragos ao já conturbado cenário, uma vez que aquela região é reconhecidamente estratégica para o agronegócio global, já que os países envolvidos no conflito são grandes produtores de milho, trigo e outras mercadorias movimentadas e embarcadas no Mar Negro, afora gás natural e petróleo. Adicionalmente, grandes áreas produtoras agrícolas, como o Brasil, a Argentina e os Estados Unidos, foram abatidas por desordens climáticas que mitigaram a produtividade das lavouras, além dos fertilizantes e defensivos importados, ameaçados pelo risco de escassez e com preços estratosféricos por causa da desvalorização cambial.
A convergência de contratempos acabou por impor pesado ônus às cadeias produtivas e obrigou o empreendedor brasileiro a desembolsar muito mais recursos na aquisição de vitaminas, aminoácidos, enzimas, etc., afora o milho e o farelo de soja. Muito embora, ocupemos o pódio na produção desses principais cereais e oleaginosas, essas commodities são precificadas em dólar, e apesar do certo alívio apurado nos últimos meses, seu preço continua reposicionado em patamar ainda proibitivo quando comparado à extrema dificuldade do repasse adicional ao varejo consumidor das carnes, leite, ovos, peixes, camarões e dos alimentos para animais de companhia.
A expectativa é que o segundo semestre possa contabilizar quantidade suficiente para compensação do retrocesso apurado nos primeiros meses e, oxalá, reservar até algum incremento, considerados alguns fatores, tais como a generosa safra de milho e soja, a distribuição do auxílio emergencial às camadas socioeconômicas menos favorecidas, o desempenho da pauta exportadora das carnes e até por conta de mais uma Copa do Mundo de futebol.
Parafraseando o imortal Ariano Suassuna: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso!”
Sobre o autor: Ariovaldo Zani é CEO do Sindirações
O artigo “Alimentação animal: Fatores que refrearam maior crescimento em 2022″ é destaque da edição 68 da Revista do OvoSite e pode ser conferido a partir da página 36.